O Livro da Selva - Cap. 4: A FOCA BRANCA Pág. 79 / 158

De vez em quando via uma barbatana delgada, como a de um grande tubarão, deslizando perto da praia, e sabia que era a Orca, o roaz-de-bandeira, a que devora focas novas quando consegue apanhá-las, Cótique cortava então para a praia como uma flecha, e a barbatana afastava-se lentamente como se não procurasse nada.

Em fins de Outubro, as focas começavam a sair de São Paulo para o mar alto, por famílias e tribos, acabavam as lutas pelos viveiros e os holuchiqui recreavam-se onde queriam.

- No ano que vem - disse Matcá a Cótique - serás holuchiqui, mas este ano tens de aprender a apanhar peixe.

Partiram juntos a atravessar o Pacífico e Matcá ensinou Cótique a dormir de costas, com as barbatanas chegadas ao corpo e o focinhinho apenas fora da água. Não há berço tão cómodo como a vaga comprida e embaladora do Pacífico. Quando Cótique sentiu a pele a formigar-lhe toda, Matcá disse-lhe que estava a aprender a sentir a água e que aquela sensação de formigueiro e de picadas indicavam mau tempo próximo, que precisava de nadar com força para se afastar.

- Em breve - disse ela - saberás para onde hás-de nadar, mas por agora seguiremos o porco marinho, o Marsuíno, que é muito discreto.

Um bando de marsuínos mergulhava e rompia pela água, e o pequeno Cótique seguiu-os tão depressa quanto podia.

- Como é que sabeis para onde haveis de ir? - perguntou ofegante. O guia do bando revirou os olhos brancos e mergulhou. - Tenho formigueiro na cauda, miúdo - disse. - Isso quer dizer que vem temporal atrás de mim. Vem daí! Quando estivermos ao sol da água pegajosa (queria dizer o Equador) e o rabo te formigar, quer dizer que tens temporal pela frente e precisas de virar para norte. Vem daí! A água aqui é desconfiar dela!

Foi esta uma das muitas coisas que Cótique aprendeu, e estava sempre a aprender.





Os capítulos deste livro