O Livro da Selva - Cap. 4: A FOCA BRANCA Pág. 82 / 158

Vinham da aldeiazinha a menos de meia milha dos viveiros das focas e estavam a ver que focas haviam de tocar para os currais de matança (pois as focas tocam-se exactamente como as ovelhas), para se transformarem mais tarde em jaquetas de pele de foca.

- Ah! - disse Patalamon. - Olhe! Vem ali uma foca branca! Quérique Búterin quase ficou branco sob o seu óleo e fumo, pois era aleuta, e os aleutas não são gente limpa. Depois pôs-se a murmurar uma oração.

- Não lhe toques, Patalamon. Nunca houve uma foca branca desde... desde que eu nasci. Talvez seja a alma do velho Zaharrof. Perdeu-se no ano passado, na grande tormenta.

- Não me aproximo dela - disse Patalamon. - Dá mau agouro. Acredita realmente que seja o velho Zaharrof que volta? Devo-lhe alguns ovos de gaivota.

- Não olhes para ela - disse Quérique. - Aparta aquela récua de quatro anos. Os homens deviam esfolar hoje duzentos, mas estamos no começo da estação e eles são novatos no ofício. Basta um cento. Depressa!

Patalamon matraqueou um par de clavículas de foca à frente de uma manada de holuchiqui, que estacou logo, bufando e arquejando. Depois aproximou-se e as focas começaram a andar, Quérique encaminhou-as para terra, e elas nem sequer tentaram voltar para as companheiras. Centenas e centenas de milhares de focas viram-nas ir tocadas, mas continuaram a brincar exactamente como dantes. Cótique foi a única a fazer perguntas, mas nenhuma das companheiras sabia dizer-lhe nada, excepto que os homens sempre tocavam assim as focas durante seis semanas ou dois meses em cada ano.

- Vou segui-los - disse, e quase lhe saltavam os olhos da cara afadigando-se na peugada da manada.

- A foca branca vem atrás de nós - bradou Patalamon. - É a primeira vez que uma foca vem para os matadouros sozinha.





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