O Livro da Selva - Cap. 4: A FOCA BRANCA Pág. 81 / 158

Mas de onde te veio essa pele?

Cótique tinha agora a pele quase toda branca, e, embora se ufanasse dela, disse apenas:

- Nadai depressa! Os meus ossos suspiram pela terra.

E assim todos chegaram às praias onde haviam nascido, e ouviram as focas velhas, seus pais, a bater-se na névoa movediça.

Nessa noite Cótique tomou parte na dança do fogo com as focas anejas. O mar apresenta-se cheio de lume em noites estivais desde Novastosná a Lucanon e cada foca deixa atrás de si um rasto, como de petróleo a arder, e um clarão de chama quando salta, e as ondas desfazem-se em grandes traços e rodopios fosforescentes. Depois dirigiram-se para o interior, para os campos dos holuchiqui, rebolaram-se de um lado para o outro sobre a grama nova e contaram histórias do que tinham feito enquanto andaram no mar. Falavam do Pacífico, como os rapazes falariam de um bosque onde tinham andado a colher avelãs, e se alguém os tivesse compreendido, podia ter saído dali para fazer uma carta daquele oceano tal como nunca se viu. Os holuchiqui de três e quatro anos desciam doidamente a colina de Hutchinson bradando:

- Arredem-se, miúdos! O mar é fundo e vós não sabeis ainda o que ele contém. Esperai até terdes rodeado o cabo Horn. Olá, seu anaco, onde arranjaste essa pele branca?

- Não a arranjei - disse Cótique -, nasceu-me. E no momento em que ia derrubar o interpelante rebolando contra ele, dois homens de cabelo preto vieram detrás de uma duna e Cótique, que nunca vira um homem, tossiu e baixou a cabeça. Os holuchiqui apenas se afastaram algumas jardas embrulhando-se uns nos outros e pararam a olhá-los, estupefactos. Os homens eram nada mais nada menos que Quérique Búterin, chefe dos caçadores de focas da ilha, e Patalamon, seu filho.





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