- Agora queres dizer? - disse Cótique, esbaforido.
- Vai perguntar à Vaca Marinha - respondeu Bruxo Marinho. - Se ainda for viva poderá informar-te.
- Como poderei conhecer a Vaca Marinha quando a vir? disse Cótique, já a caminho.
- É a única coisa do mar mais feia que Bruxo Marinho guinchou uma gaivota-burgomestre, deslizando sob o focinho de Bruxo Marinho. - Mais feia e descortês! Starique!
Deixando as gaivotas com os seus guinchos, Cótique voltou a Novastosná. Aí descobriu que ninguém aprovava as suas pobres tentativas de descobrir um lugar sossegado para as focas. Disseram-lhe que os homens sempre tinham tangido os holuchiqui - fazia parte da rotina diária -, e que, se não gostava de ver coisas horríveis, não devia ter ido aos campos de matança. Mas nenhuma das outras focas vira a matança, e aí estava a diferença entre ela e os seus amigos. De resto, Cótique era foca branca.
- O que tu tens a fazer - disse-lhe o velho Rompão Marinho, depois de ter ouvido contar as aventuras ao filho - é crescer, até seres uma foca grande como teu pai, ter um viveiro na praia, e nessa altura deixar-te-ão em paz. Dentro de outros cinco anos deves estar em condições de combater sozinho.
Até a meiga Matcá, sua mãe, lhe disse:
- Nunca conseguirás pôr termo à matança. Vai brincar para o mar, Cótique - e Cótique afastou-se e foi entregar-se à dança do fogo com o coraçãozinho oprimido.
Nesse Outono abalou da praia logo que pôde e partiu só, dominado por uma ideia obsidiante. Havia de encontrar a Vaca Marinha, se tal pessoa existisse no mar, e ia descobrir uma ilha sossegada, de boas praias firmes, para as focas viverem, onde os homens não pudessem chegar-lhes. Por isso explorou e tornou a explorar desde o Norte até ao Sul do Pacífico, nadando até trezentas milhas num dia e numa noite, Correu mais aventuras do que é possível narrar e escapou por um triz de ser apanhado pelo Peixe-frade, pelo Pinta Roxa e pelo Peixe-martelo, e teve encontros com todos os malandrins traiçoeiros que vagabundeiam pelo mar, como os peixes pesados e corteses e como as salmeiras de pintas escarlates, que se fixam no mesmo ponto durante centenas de anos e disso muito se ufanam; mas a Vaca Marinha, nunca a encontrou e nunca descobriu uma ilha de que gostasse.
