O Livro da Selva - Cap. 4: A FOCA BRANCA Pág. 87 / 158

Se a praia era boa e sólida, com uma encosta a seguir para as focas brincarem, havia sempre o fumo de um baleeiro no horizonte, a derreter a gordura da baleia, e Cótique sabia o que aquilo queria dizer. Ou então via que as focas já tinham visitado a ilha, mas haviam sido exterminadas, e por isso sabia que os homens voltariam um dia ao sítio onde já tinham estado.

Travou por acaso relações com um albatroz rabicurto que lhe disse que a ilha de Querguelem era o recanto ideal de paz e sossego, e quando Cótique lá chegou pouco lhe faltou para ser esmigalhado de encontro a uns perversos rochedos escuros, no meio de uma forte saraivada acompanhada de relâmpagos e trovões. Ao afastar-se contra a ventania, pôde ver que ali mesmo houvera já um viveiro de focas, e o mesmo se dava em todas as outras ilhas que visitou.

Limerchin dava uma extensa relação delas, pois dizia que Cótique gastara cinco anos em explorações, com descanso de quatro meses por ano em Novastosná, e então os holuchiqui troçavam dele e das suas ilhas imaginárias. Foi às Galápagos, sítio horrível e seco, no Equador, onde esteve prestes a morrer assado, foi às ilhas Geórgias, às órcadas do Sul, à ilha Esmeralda, à pequena ilha dos Rouxinóis, à ilha de Gough, à ilha de Bouvet, às ilhas Crossets, e até a uma manchazinha de ilha a sul do cabo da Boa Esperança. Mas em toda a parte os habitantes do mar lhe contavam a mesma história. Em tempos idos as focas vinham a estas ilhas, mas os homens tinham-nas exterminado. Mesmo depois de ter andado milhares de milhas fora do Pacífico e chegado a um lugar chamado cabo Corrientes (fora quando voltava da ilha de Gough), encontrou algumas centenas de focas sarnentas sobre um rochedo, que lhe disseram que os homens também ali vinham.





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