O Livro da Selva - Cap. 4: A FOCA BRANCA Pág. 88 / 158

Isto quase lhe despedaçou o coração. Então dirigiu-se, dobrando o cabo Horn, para as suas próprias praias, e, a caminho do Norte, saiu numa ilha coberta de árvores verdes, onde encontrou uma foca velha e revelha, quase moribunda. Cótique apanhou-lhe peixe e contou-lhe todas as suas mágoas.

- Agora - disse Cótique -, volto para Novastosná, e, se for tangido para os matadouros com os holuchiqui, não me importarei.

A velha foca aconselhou:

- Tenta mais uma vez. Eu sou a última da colónia de Masafuera, e nos tempos em que os homens nos matavam às centenas de milhares, corria nas praias a história de que um dia viria do Norte uma foca branca que conduziria as focas para um lugar tranquilo. Sou velha e não chegarei a ver esse dia, mas vê-lo-ão os outros. Experimenta mais uma vez.

Cótique torceu o bigode (era coisa linda) e pensou: «Sou a única foca branca que jamais nasceu nas praias, e sou também a única foca, branca ou preta, que alguma vez se lembrou de procurar novas ilhas.»

Isso animou-o imenso e quando, nesse Verão, regressou a Novastosná, a mãe, Matcá, pediu-lhe que casasse e assentasse vida, pois já não era holuchiqui mas rompão marinho adulto, com juba branca encaracolada nos ombros, tão pesado, volumoso e feroz como o pai.

- Dê-me mais um ano - disse. - Lembre-se, mãe, de que é sempre a sétima onda a que mais avança pela praia.

Caso curioso, havia outra foca que se lembrou de adiar o casamento para o ano seguinte, e Cótique dançou com ela a dança do fogo, ao longo da praia de Lucanon, na noite anterior à sua partida para a última exploração.

Desta vez seguiu para poente, porque tinha dado na pista de um grande cardume de halibus e ele precisava de, pelo menos, cinquenta quilos de peixe por dia para se manter em boa forma.





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