- Eram pessoas nervosas? Alguma vez se mostraram receosas de perigo iminente?
- Nunca.
- Não sabe então de nada que me possa ajudar...
Mortimer Tregennis reflectiu esforçadamente por uns instantes,
- Estou a lembrar-me de uma coisa... Quando estávamos à mesa, tinha as costas para a janela e o meu irmão George meu parceiro de jogo, sentava-se de frente. Vi-o uma vez olhar com atenção por cima do meu ombro, e virei-me. A persiana estava levantada e a janela fechada mas viam-se os arbustos no relvado e pareceu-me, por um momento, divisar algo movendo-se entre eles. Não saberia dizer se era homem ou animal, mas era qualquer coisa. Quando lhe perguntei para onde olhava, meu irmão disse-me que tivera a mesma impressão. E pronto.
- Não investigou?
- Não. Não dei importãncia ao caso.
- Deixou-os, portanto, sem qualquer pressentimento?
- Nenhum.
- Gostava que me explicasse melhor como soube a notícia, esta manhã.
- Levanto-me cedo e costumo passear antes do pequeno-almoço. Mal acabava de sair quando o médico passou por mim na carruagem. Contou-me que a velha Mrs. Porter mandara um rapaz chamá-lo com urgência. Sentei-me ao lado dele e partimos. Quando lá chegámos, deparou-se-nos o terrível quadro. As velas e o lume deviam ter-se apagado horas antes, e eles tinham certamente passado ali a noite. O médico disse que Brenda estava morta havia pelo menos seis horas. Não havia sinais de violência. Brenda jazia com a cabeça no braço da cadeira, o terror estampado na face. George e Owen cantavam fragmentos de canções e emitiam sons como dois macacos. Terrível! Não pude suportar a cena e o médico ficou cor de cera. Caiu mesmo numa cadeira, como desmaiado, e pouco faltou para morrer também.