O signor Castalotte é solteiro e creio que via em Gennaro um filho; tanto o meu marido como eu o amávamos como a um pai. Comprámos e mobilámos uma casinha em Brooklyn e o nosso futuro parecia garantido quando essa nuvem apareceu e, em breve, tomou conta de todo o nosso céu.
»Uma noite, quando Gennaro regressou do trabalho, trouxe consigo um compatriota. Chamava-se Gorgiano e viera também de Posilippo. Era um homem enorme, como puderam verificar olhando o seu corpo. Não apenas o seu corpo era de gigante; tudo nele era grotesco, descomunal, assustador. A sua voz parecia um trovão na nossa casinha. Mal havia espaço para o gesticular dos seus braços enquanto falava. As suas ideias, as suas emoções, as suas paixões, era tudo exagerado e monstruoso. Falava, ou melhor, rugia com tal violência quê os outros não tinham outro remédio senão ouvi-lo em silêncio, assustados pela indomável torrente das suas palavras. Os seus olhos ardiam, colocavam as pessoas à sua mercê. Era um homem terrível e portentoso. Graças a Deus que está morto!
»Começou a aparecer com frequência, mas eu sabia que Gennaro não gostava mais dele do que eu. O meu pobre marido sentava-se pálido e desinteressado, ouvindo o interminável palavreado ribombante sobre política e questões sociais a que se resumia a conversa do nosso visitante. Gennaro não dizia nada, mas eu, que o conhecia bem, lia no seu rosto uma emoção que nunca antes lhe vira. A princípio julguei que era antipatia; depois, a pouco e pouco, percebi que era mais do que isso. Era medo: um medo profundo e secreto, um medo medroso. Nessa noite (a noite em que descortinei o seu terror) abracei-o e implorei-lhe pelo amor que me dedicava e por tudo o que ele tinha de mais querido que não me escondesse nada e me contasse a razão pela qual aquele homem monstruoso o apavorava.
