Há uma semana que remamos todos na mesma galera. Aprendemos a estimar-nos uns aos outros e, cada qual por seu lado, a estimar o país dos outros. Temos aqui o coronel pela Alemanha; o padre Pierre pela França; o professor pela América; pela Inglaterra, Ralston e eu. E aqui temos as senhoras, que Deus as abençoe! Encontrámos durante todo o cerco junto delas anjos de compaixão e de misericórdia. Deveríamos beber à saúde das senhoras. Elas deram-nos o admirável exemplo da calma na coragem, da paciência, de... como direi? .. da força de alma... de... de... Por S. Jorge!, olhem para o coronel! Também ele adormecido! Não se resiste a esta temperatura infernal!
Mas o copo escaqueirou-se em cima da mesa e ele próprio caiu de costas, murmurando palavras confusas. Miss Sinclair, a pálida enfermeira, pelo seu lado, também tinha sucumbido; e inclinava-se, tal como um lírio quebrado, atravessada na cadeira. Mr. Patterson olhou à sua volta, levantou-se e enquanto passava uma das mãos pela testa em fogo exclamou:
- Isto não é natural, Jessie! Por que dormem todos? E, repare, agora o padre Pierre... Arrumado como os outros! Jessie, a sua mãe está fria. É o sono? É a morte? Abra as janelas! Socorro! Socorro!
Avançou, a cambalear, para a janela. Mas, a meio do caminho, sentiu uma vertigem, os joelhos fraquejaram, e foi-se abaixo de cabeça para a frente. A jovem dera um salto. Contemplou com olhos apavorados o pai estendido à sua frente, cercado por um círculo de silêncio.
- Professor Mercer, que se passa? Então que se passa? - adjurou ela. - Ah meu Deus, mas estão a morrer! Mas estão morros!
O velhote pôs-se de pé, graças a um supremo esforço da vontade, porque já sentia espessarem-se à sua volta as trevas.
- Minha querida menina - disse ele, numa voz que entrecortava as palavras -, queríamos poupá-la a esta provação.
