Contos de Mistério - Cap. 2: O LOTE N° 249
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O LOTE N° 249
(The lot n. 249)

Acerca do comportamento de Edward Bellingham relativamente a William Monkhouse Lee, e acerca do motivo do grande pavor de Abercrombie Smith, é difícil fazer um juízo definitivo. É certo que possuímos a narrativa clara e completa do próprio Smith, perfeitamente corroborada por Thomas Styles, pelo criado, pelo reverendo Plumptree Peterson, membro da corporação da Universidade, e por diversas testemunhas deste ou daquele incidente. Todavia, a história assenta, em suma, apenas no próprio Smith, e parecerá preferível a muitos acreditar que um cérebro, embora aparentemente são, se viu atacado por um desarranjo subtil, em vez de admitir que o curso normal da natureza tenha podido ser transtornado neste centro de ciência e de luz que é a Universidade de Oxford. Mas quando se reflecte nos meandros e na estreiteza deste curso normal da natureza, na dificuldade que se sente para o despistar apesar de todos os lampejos da ciência, e nas grandes, terríveis possibilidades que emergem confusamente das trevas que a rodeiam, é preciso ser muito ousado, muito temerário até,

para estabelecer um limite às veredas transviadas que o espírito humano pode seguir.

Numa ala daquilo a que chamaremos o Velho Colégio em Oxíord, existe uma pequena torre de esquina extremamente antiga. A pesada abóbada que passa por cima da porta aberta encurvou-se no seu centro sob o peso dos anos; as pedras grisalhas, musgosas, são mantidas unidas pela hera e pelas vergônteas de vime, como se a velha mãe tivesse tido o cuidado de preservá-las do vento e do mau tempo. Atrás da porta, uma escada de pedra trepa em espiral até um terceiro andar; as suas lajes acham-se escavadas e tornaram-se informes sob os passos de múltiplas gerações de mendicantes do saber.





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