O SOLAR ASSOMBRADO DE GORESTHORPE
(The haunted grange of Goresthorpe) Estou certo de que a natureza nunca tivera a intenção de fazer de mim um filho das suas obras.
Há momentos em que me custa a convencer de que vinte anos da minha vida foram passados atrás do balcão de uma mercearia no East End de Londres, e que foi por seu intermédio que cheguei à posse de uma larga independência e à do Solar de Goresthorpe.
As minhas tendências aproximam-me do Partido Conservador; os meus gostos são requintados e aristocráticos.
A minha alma despreza a ralé.
A nossa família, os d'Odd, remonta certamente a uma época pré-histórica: a sua aparição na História da Grã-Bretanha não é comentada por nenhum historiador digno de fé.
Não sei que instinto me diz que nas minhas veias corre o sangue de um cruzado.
Ainda hoje, após tantos anos, sobem-me aos lábios exclamações deste género: "Por minha dama!", e isto muito naturalmente .
Enfim, sinto que se as circunstâncias o exigissem, seria capaz de erguer-me nos meus estribos e de lançar ao infiel uma pancada... digamos de maça... que o atordoaria consideravelmente.
O Solar de Goresthorpe é uma residência feudal; pelo menos estava assim qualificado no anúncio que mo deu a conhecer.
O seu direito a este adjectivo teve uma influência deveras notável sobre o seu preço, e poderia muito bem ser que as vantagens fossem mais do domínio do sentimento do que do da realidade.
Apesar de tudo, encontro-me satisfeito por ter na minha escada seteiras através das quais me é possível lançar flechas.
Vive-se a sensação do poder ao pensar que somos proprietários de um aparelho complicado que nos permite despejar chumbo derretido em cima da cabeça de um visitante fortuito.