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Capítulo 4: O GATO DO BRASIL

Página 105

Dir-se-ia que o gato se excitava com o movimento.

Continuava às voltas, muito depressa, sem ruído, em torno do seu covil, passava e tornava a passar sem descanso por baixo do leito de ferro que me suportava. Era uma coisa admirável que aquele corpo enorme se deslocasse com a ligeireza de uma sombra e que apenas se ouvissem com a sua passagem pequenos choques moles como os dos carimbos de veludo! A vela ardia muito pálida, tão pálida que eu mal distinguia o animal. De súbito, após um derradeiro brilho, uma derradeira crepitação, apagou-se. Fiquei sozinho com o gato nas trevas.

Encaramos mais deliberadamente o perigo quando tomamos consciência de ter feito tudo quanto era possível; só nos resta aguardar. Para mim, se houvesse uma hipótese de salvação, era apenas no sítio exacto em que me encontrava. Estendi-me, portanto, ao comprido e fiquei imóvel, contendo a respiração, à espera de que o animal talvez me esquecesse se eu evitasse fazer-me lembrar a ele. Calculei que deviam ser duas horas. Às quatro, o dia começaria a raiar. Só tinha que aguardar duas horas.

Lá fora, a tempestade tornava-se cada vez mais forte, a chuva fustigava as pequenas janelas; no interior, reinava uma atmosfera esmagadora, completamente viciada de miasmas. Já não via nem ouvia o gato. Procurei pensar em diversas coisas. Uma única logrou distrair-me um pouco do sentimento da minha situação: foi a ideia da perversidade do meu primo, da sua hipocrisia sem igual, do seu ódio feroz por mim. Debaixo daquela máscara agradável dissimulava-se um bandido de outra época. Quanto mais pensava nisto, mais penetrava na minuciosa perfídia com que ele adoptara as suas medidas. Tinha fingido ir deitar-se como toda a gente: testemunhas afirmariam sem dúvida tê-lo visto.

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Capa do livro Histórias Extraordinárias
Páginas: 136
Página atual: 105

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
MÃO ESCURA 1
O CASO DE LADY SANNOX 19
O PARASITA 31
O GATO DO BRASIL 89
O FUNIL DE CABEDAL 113
O QUARTO DO PESADELO 127