Três homens de preto, com barretes de veludo preto curiosamente muito largos no topo, estavam sentados em linha num estrado coberto por um tapete encarnado.
Tinham um ar solene, muito triste. À esquerda, dois homens de toga comprida seguravam, cada um deles, uma pasta aparentemente repleta de papéis. À direita, uma loura baixinha com estranhos olhos azuis claros, olhos de criança, olhavam na minha direcção. Já não estava na flor da idade, mas era ainda jovem. Gorducha, roliça, tinha um ar altivo e seguro, o rosto pálido mas sereno. Curioso rosto, com algo de felino, como um toque de crueldade, na boquita fina e direita e no queixo bem carnudo. Envolvia-se numa espécie de vestido amplo e branco. A seu lado, um sacerdote magro e apaixonado falava-lhe ao ouvido e erguia continuamente um crucifixo para que a mulher o tivesse à frente da vista. Ela virou a cabeça e fitou intensamente, para além do crucifixo, os três homens de preto que eram, pressenti-o, os seus juízes.
Os três homens levantaram-se e disseram algumas palavras que não ouvi; fora o do meio que falara. Depois saíram da sala; os dois homens com as carteiras seguiram-nos. No mesmo instante vários indivíduos vulgares de gibão justo entraram na sala; retiraram o tapete encarnado, depois as tábuas que constituíam o estrado, em suma, deram um pouco de arrumação. Uma vez desaparecido este fundo, verifiquei a presença de móveis extraordinários: um parecia-se com uma cama com rodízios de madeira em cada extremidade e uma manivela para regular o comprimento; um outro era um cavalo de madeira; havia igualmente diversas cordas que se balouçavam por cima das roldanas. Dir-se-ia um ginásio moderno.
Quando a sala ficou pronta, apareceu em cena um novo personagem. Era um homem alto e magro, todo de negro vestido.