Sou negociante de curiosidades, compreende, e por isso é que vim a Inglaterra, de Esmirna... Mas na próxima semana, volto para lá. Trouxe muitas coisas comigo, e restam-me alguns objectos, entre os quais, infelizmente, um desses punhais.
- Devo recordar-lhe que tenho um encontro, senhor - disse o cirurgião algo irritado. - Peço-lhe que se limite aos pormenores indispensáveis.
- Vai ver que é necessário. Hoje a minha mulher sentiu uma fraqueza no quarto onde guardo as minhas mercadorias, e cortou o lábio inferior com um destes malditos punhais dos Almóadas.
- Estou a ver - disse Douglas Stone, pondo-se de pé -, e o senhor deseja que eu faça o curativo do ferimento?
- Não, não, é pior do que isso.
- Então o que é?
- Esses punhais estão envenenados.
- Envenenados!
- Sim, e não existe homem no Oriente nem no Ocidente que possa dizer qual é o veneno e qual é o remédio. Mas tudo o que se sabe, sei-o eu, porque o meu pai fez este comércio antes de mim, e ocupámo-nos muito destas armas envenenadas.
- Quais são os sintomas?
- Sono profundo e a morte em trinta horas.
- E o senhor diz que não existe remédio. Nesse caso por que me deu esta quantia considerável?
- Nenhuma droga pode curá-la, mas a faca pode.
- E como?
- O veneno absorve-se lentamente... Mantém-se durante horas na ferida.
- Então uma lavagem poderia retirá-lo?
- Não mais do que no caso de uma mordidela de serpente. O veneno é demasiadamente subtil e demasiadamente mortal.
- Nesse caso, a incisão da ferida?
- É isso. Se fosse no dedo, cortar o dedo. É o que sempre dizia o meu pai. Mas pense no sítio onde se encontra a ferida, e pense que ela é a minha mulher... É horrível!
A frequência destas situações horríveis pode embotar a simpatia de um homem.