Aqui e além, nas encostas verde-azeitona, alongadas e unidas, elevavam-se pequenas antas arredondadas. Estes outeiros funerários abrigam as cinzas daqueles que escavaram as colinas; urnas repletas de poeira, eis tudo o que resta dos homens que outrora trabalharam ao Sol.
Foi através deste campo misterioso que me aproximei de Rodenhurst, a residência do meu tio; a casa harmonizava-se bem com as cercanias. Dois pilares quebrados e conspurcados pela idade, cada um deles encimado por um brasão mutilado, ladeavam o gradeamento que dava para uma avenida maltratada. Um vento agreste assobiava nos olmeiros que a ladeavam; o ar sussurrava devido à deriva das folhas. No extremo da avenida, sob uma abóbada de árvores, um clarão amarelo brilhava. À luz desta hora, em pleno lusco-fusco, avistei uma construção baixa que se estendia em duas alas assimétricas. O telhado inclinado tinha grandes saliências; os barrotes à moda dos Tudor entrecruzavam-se nas paredes... Um lume simpático dançava atrás da larga janela dividida em losangos, à esquerda do átrio; indicava a localização do escritório do meu tio, e foi para lá que me conduziu o mordomo a fim de eu me apresentar a Sir Dominick.
Estava debruçado sobre a lareira, porque o frio húmido de um Outono inglês causava-lhe arrepios. O candeeiro estava apagado; o brilho avermelhado das brasas iluminava cruamente uma grande figura angulosa, um nariz e faces de pele-vermelha, rugas, profundos sulcos entre os olhos e o queixo. Endireitou-se com um salto para me acolher, com uma cortesia algo caduca, e desejou-me calorosamente as boas-vindas a Rodenhurst. Apercebi-me, quando o mordomo acendeu o candeeiro, que dois olhos de um azul claro muito inquisidores, como se fossem batedores numa selva, me fitavam sob sobrancelhas farfalhudas e que este tio desconhecido estava a decifrar o meu carácter com toda a facilidade de um observador treinado e de um homem de sociedade experimentado.