Tudo quanto existe de vida, de alma, de energia, dirige-o ele para um objectivo único.
Quando adormece é a comparar os resultados adquiridos durante o dia e quando acorda é para traçar um plano de pesquisas para o dia seguinte.
E no entanto, fora do pequeno círculo que o rodeia, tem pouca notoriedade.
A fisiologia é uma ciência reconhecida. Se eu acrescentar um tijolo que seja ao edifício, toda a gente o vê e aplaude.
Mas Wilson esforça-se por cavar os alicerces de uma ciência do futuro.
Todo o seu labor é subterrâneo e não faz efeito.
Apesar disso, segue em frente sem se queixar. Corresponde-se com uma centena de pessoas meio maníacas.
Na esperança de encontrar um testemunho certo, passa pelo crivo uma centena de mentiras, onde o acaso pode fazê-lo encontrar um pequeno vislumbre de verdade.
Coteja livros antigos. Devora os novos. Faz experiências, conferências.
Esforça-se por atear nos outros a paixão intensa que o consome.
Sinto-me cheio de espanto e de admiração quando penso nele e, no entanto, quando me pede para me associar às suas pesquisas, vejo-me obrigado a dizer-lhe que, no seu estado actual, elas oferecem poucos atractivos para um homem que se dedicou à ciência exacta.
Se pudesse mostrar-me algo de positivo, de objectivo, talvez me deixasse tentar por abordar a questão pelo seu lado fisiológico.
Mas enquanto metade dos seus temas estiverem taxados de charlatanismo e a outra metade de histeria, nós outros, os fisiologistas, deveremos agarrar-nos ao corpo e deixar a alma aos nossos descendentes.
Sou, sem nenhuma dúvida, um materialista.
Agathe diz mesmo que sou um insuportável materialista.
Respondo-lhe que aí está um motivo excelente para abreviarmos o nosso noivado, pois preciso urgentemente da sua espiritualidade.