Histórias Extraordinárias - Cap. 3: O PARASITA Pág. 33 / 136

E, no entanto, posso pretender passar por um exemplo curioso da influência que a educação exerce sobre o temperamento, porque se não tenho ilusões a meu respeito, sou por natureza um homem essencialmente psíquico.

Quando rapaz novo, era nervoso, sensitivo, sujeito a sonhos, ao sonambulismo, cheio de impressões, de intuições.

Os meus cabelos pretos, os meus olhos de cor escura, a minha cara magra e esverdeada, os meus dedos afunilados, tudo isto caracteriza o meu verdadeiro temperamento e dá a conhecedores como Wilson razões para me reclamarem como um dos seus.

Mas o meu cérebro está todo ele impregnado de ciência exacta.

Exercitei-me assiduamente a só admitir factos comprovados. A suposição, a imaginação não têm nenhum lugar no quadro do meu pensamento.

Mostrem-me um objecto que eu possa ver com o meu microscópio, dissecar com o meu escalpelo, pesar na minha balança, e consagrarei uma existência inteira ao seu estudo. Mas se me propuserem que tome por temas de exame sentimentos, impressões, sugestões, pedem-me que me entregue a uma tarefa antipática e mesmo desmoralizante.

Um desvio relativamente à razão pura afecta-me como um mau cheiro ou uma música discordante.

Esta é uma razão mais do que suficiente para explicar o pouco entusiasmo que sinto por fazer esta noite uma visita ao professor Wilson.

Contudo, sinto que me será impossível escapar ao convite sem uma indelicadeza nítida, e agora que mr. Marden e Agathe lá vão, eu não iria se pudesse ser dispensado.

Mas preferiria encontrar-me com eles noutro sítio qualquer.

Sei que William me atrairia, se pudesse, para essa nebulosa meia ciência que ele cultiva.

O seu entusiasmo torna-o igualmente inacessível às opiniões indirectas ou às advertências.





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