Escrevo este bilhete para abreviar a sua ansiedade e peço-lhe desculpa pelo sofrimento passageiro que a minha sugestão lhe terá causado.
E realmente, quando acabei de ler este bilhete, senti-me demasiado aliviado para poder zangar-me.
Era, claro, descaramento; era uma prova de um enorme descaramento, da parte de uma dama com quem me encontrara pela primeira vez. Mas, ao fim e ao cabo, eu é que a tinha provocado com o meu cepticismo.
Devia ser complicado, como ela dizia, inventar um meio de controlo capaz de satisfazer-me.
E tinha utilizado este.
Era impossível levantar qualquer objecção sobre tal ponto. Para mim a sugestão hipnótica era um facto assente definitivamente.
Que Agathe, a pessoa mais equilibrada entre todos os meus conhecimentos do sexo feminino, tivesse sido reduzida ao estado de autómato, era coisa que parecia certa.
Uma pessoa à distância fizera-a mover-se como um engenheiro manobra da costa um torpedo Brennan.
Uma segunda alma deslizara para dentro dela e afastara a sua, apossara-se do seu aparelho nervoso dizendo: "Quero dispor dele durante meia hora."
E Agathe devia ter permanecido inconsciente desde o momento da chegada até ao fim da partida.
Pudera percorrer as ruas sem perigo num tal estado? Peguei no chapéu e saí à pressa para ver se tudo se tinha passado bem com ela.
Sim. Estava em casa.
Mandaram-me entrar para o salão, onde a encontrei com um livro nos joelhos.
- Está a fazer as suas visitas muito cedo, Austin - disse ela a sorrir.
- Quanto a si ainda foi mais matinal - respondi. Pareceu intrigada.
- Que quer dizer? - perguntou.
- Então não saiu hoje?
- Não, certamente que não.
- Agathe - disse eu com ar sério -, consentiria em dizer-me exactamente tudo o que fez esta manhã?
Ela riu-se do meu ar grave.