- Austin - disse-me -, assumiu hoje o seu ar profissional. Aqui está o que é ser noiva de um homem de ciência. Mas apesar disso vou dizer-lhe, se bem que não possa conceber que interesse isso possa ter para si. Levantei-me às oito horas. Tomei o pequeno-almoço às oito e meia. Vim para esta sala às nove e dez; pus-me a ler as Memórias de madame de Rémusat e, daí a alguns minutos, concedi a esta dama francesa a delicadeza de adormecer com o seu livro, e a si fiz a de sonhar consigo, o que é muito agradável. Há apenas alguns minutos que acordei.
- E encontrava-se no mesmo sítio onde estava antes?
- Mas como poderia encontrar-me noutro sitio?
- Não se importa, Agathe, de dizer-me o que sonhou a meu respeito? Garanto-lhe que não é simples curiosidade da minha parte.
- Tenho apenas uma vaga impressão de que desempenhava um papel no sonho. Não consigo lembrar-me de nada mais preciso.
- Se não saiu hoje, Agathe, de onde provém a poeira das suas botinas?
Ela assumiu um ar penalizado.
- Realmente, Austin, não sei o que tem esta manhã.
Quase se diria que duvida da minha palavra. Se as minhas botinas têm poeira é provavelmente porque escolhi um par que a criada não tinha limpo.
Era absolutamente evidente que nada sabia e disse para comigo que, afinal, o melhor seria deixá-la na ignorância.
Se a dissipasse poderia assustar Agathe e isso não traria nenhum bom resultado. Assim, não falei mais no assunto e despedi-me pouco depois a fim de ir dar a minha aula.
Mas fiquei profundamente impressionado.
O meu horizonte das possibilidades científicas alargou-se de súbito enormemente.
Agora já não me espanta a energia e o entusiasmo diabólico de Wilson. Então quem não trabalharia com um ardor invencível quando sente ao alcance da mão um vasto campo inexplorado?
Sim, recordo-me de que ao ver um nucléolo assumir uma forma nova ou ao avistar um minúsculo pormenor numa fibra muscular estriada, examinada numa ampliação de trezentos diâmetros, me sentia exultar.
