Histórias Extraordinárias - Cap. 3: O PARASITA Pág. 49 / 136

Eu estava sentado, a cabeça inclinada para trás. Miss Penelosa mantinha-se de pé, à minha frente, um pouco à esquerda, praticando os mesmos longos passes que usara com Agathe.

Após cada um deles, parecia-me que uma corrente de ar quente me atingia e espalhava dentro de mim um frémito, um ardor que me penetrava dos pés à cabeça.

Os meus olhos estavam fixos na cara de miss Penelosa, mas à medida que olhava, as feições tornavam-se cada vez mais indistintas e acabavam por sumir-se.

Tinha consciência de já só ver os seus olhos cinzentos que me fixavam de modo profundo, insondável. Aumentavam, aumentavam e acabavam por tornar-se dois lagos de montanha para os quais eu caia com horrível rapidez.

Estremeci, e neste preciso momento um pensamento brotado das camadas mais profundas da inteligência explicou-me que este arrepio era a fase de rigidez que tinha observado em Agathe.

Um instante mais tarde, cheguei à superfície dos lagos, que agora apenas faziam um e meti-me nas águas com uma sensação de plenitude na cabeça e um zumbido nos ouvidos. Desci, continuei a descer; depois, com um impulso brusco, subi até poder rever a luz espalhada em jorros brilhantes através das águas verdes.

Achava-me próximo da superfície quando a palavra "Acorde!" me ecoou na cabeça e tive um sobressalto quando me vi sentado na poltrona, na companhia de miss Penelosa, apoiada na bengala, e de Wilson que, de bloco de notas na mão, me fitava por cima do ombro dela.

Não ficara com nenhuma sensação de peso ou de fadiga. Pelo contrário, embora se houvesse apenas escoado uma hora desde a experiência, sinto-me tão desperto que estou mais disposto a ficar no meu escritório do que a ir deitar-me.

Vejo desenrolar-se à minha frente uma completa perspectiva de experiências e aguardo com impaciência o momento de começá-las.





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