A infeliz parece ter-se apaixonado por mim.
Nunca diria tal coisa mesmo na intimidade que comporta um diário pessoal, se não tivesse chegado ao ponto em que me é impossível não dar por isso.
Durante algum tempo, isto é, durante a última semana, houvera indícios que eu tinha afastado bruscamente, recusando-me a pensar nisso: a sua vivacidade quando chego, a sua depressão quando parto, a solicitude que manifesta para eu vir muitas vezes, a expressão dos olhos, o timbre da voz.
Fiz o melhor que pude para acreditar que tudo isto nada significava, que era simplesmente a maneira expansiva das gentes das Índias Ocidentais.
Mas na noite passada, quando despertei do sono magnético, estendi a mão, sem dar por isso, sem querer, e apertei a dela.
Quando voltei inteiramente a mim, estávamos sentados, de mãos ainda entrelaçadas, e ela fitava-me com um sorriso ansioso.
E o que há de horrível é que senti dentro de mim o impulso que me impelia a dizer o que ela esperava.
Que mentiroso miserável eu teria sido! Que aversão sentira agora por mim mesmo se nesse momento tivesse cedido à tentação!
Mas, graças a Deus, tive a força suficiente para levantar-me com um salto e correr para fora da sala.
Fui grosseiro, muito o receio, mas não, não podia, não podia ser senhor de mim mais um instante.
Eu, um cavalheiro, um homem de honra, noivo de uma das mais encantadoras jovens de Inglaterra, estive prestes, num momento de paixão que me retirara toda a razão, a fazer uma declaração de amor àquela mulher que mal conheço.
Ela é muito mais velha do que eu e, além disso, coxeia. É monstruoso - é odioso - e, no entanto, o impulso era tão forte que, se tivesse ficado um minuto mais na sua presença, me teria comprometido.