Vou enlouquecer!
Sim, eis como isto findará. Vou enlouquecer. Nem sequer estou agora longe disso.
A cabeça ferve-me, quando a apoio na minha mão ardente. Tenho todo o corpo percorrido por arrepios como um cavalo espavorido.
Oh, que noite passei!
E, no entanto, tenho alguns motivos para estar também contente.
Com o risco de tornar-me um objecto de ridículo para o meu próprio criado, meti novamente a chave debaixo da porta e aprisionei-me assim para passar a noite.
Depois, porque achei que era demasiado cedo para me deitar, estendi-me completamente vestido na cama, e pus-me a ler um dos romances de Dumas.
De súbito, fui arrancado... sim, arrancado, puxado para fora da cama.
É só nestes termos que posso descrever a força avassaladora que se apoderou de mim.
Agarrei-me ao cobertor. Agarrei-me à madeira da cama. Creio até que no meu frenesim gritei.
Foi tudo inútil. Fiquei impotente. Tive de obedecer. Era-me impossível subtrair-me a isso.
Foi só no começo que opus alguma resistência. A influência depressa se tornou demasiado imperiosa para lutar.
Rendi graças ao Céu por não haver guardas para intervir. Se houvesse, não teria podido responder por mim.
E a esta determinação de sair juntava-se uma percepção muito nítida e muito viva dos meios a que recorrer.
Acendi uma vela. Ajoelhei-me em frente da porta e procurei atrair a chave com as barbas de uma pena de ganso; mas ela era um pouco curta de mais e só conseguiu afastar a chave.
Então, com uma obstinação tranquila, tirei de uma gaveta uma faca de cortar papel e consegui assim recolher a chave.
Abri a porta.
Penetrei no meu gabinete e tirei de cima da secretária uma das minhas fotografias. Escrevi nela algumas linhas e meti-a na algibeira interior do sobretudo.