O dia decorreu sem incidente, mas sei que estou à beira de um abismo. Sei-o e, no entanto, vou em frente, seguindo o carreiro habitual da minha vida.
O único raio de luz que nela penetra é que Agathe está feliz, bem disposta e longe de qualquer perigo.
Se aquela criatura conseguisse pôr as mãos em cima de cada um de nós, o que poderia suceder?
16 de Abril. Esta mulher é engenhosa nas suas perseguições. Sabe quanto gosto do meu trabalho e que grande interesse dedico às minhas aulas. Por isso é desse lado que dirige os seus ataques.
Isto há-de acabar, bem o vejo, com a perda da minha cátedra de professor, mas lutarei até ao golpe de misericórdia.
Não me afastará sem luta.
Durante a minha aula desta manhã, não notei em mim qualquer mudança, a não ser sentir um ou dois minutos de vertigens e de ondulação que desapareceram muito depressa. Pelo contrário, felicitei-me por ter sabido tornar o meu tema interessante e claro. Tratava-se das funções dos corpúsculos vermelhos. Fiquei por isso surpreendido quando um dos estudantes entrou no meu laboratório, logo após a aula, e me disse sentir-se muito intrigado por encontrar tantas diferenças entre as minhas afirmações e as dos manuais.
Mostrou-me o seu caderno de apontamentos, onde pude ver que durante uma parte da aula eu emitira as heresias mais revoltantes e mais anticientíficas.
Naturalmente mostrei-me exaltado. Protestei que ele tinha compreendido mal, mas ao comparar os seus apontamentos com os tomados pelos colegas, tive que admitir a sua razão e que eu tinha, de facto, enunciado algumas afirmações absurdas. Explicarei isto atribuindo a coisa a uma distracção passageira, mas sinto que é o início de uma série.
Apenas falta um mês para o fim do semestre; praza a Deus que eu consiga aguentar-me bem até lá.
