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Capítulo 3: O PARASITA

Página 77
Pronunciava gracejos estúpidos, frases sentimentais como se fizesse uma saúde, cantarolava canções populares, chamava indelicadamente à parte este ou aquele assistente.

Depois, de repente, o meu cérebro recuperava toda a clareza e eu retomava a aula e terminava-a convenientemente.

Que admira, pois, que a minha conduta se tenha tornado um tema de conversa para os diversos colegas? Que admira, pois, que o senado universitário se tenha visto na obrigação de conhecer oficialmente um tal escândalo?

Ah, a diabólica mulher!

E o que há de mais terrível em tudo isto é a minha solidão.

Eis-me num banal vão de janela inglesa, que dá para uma banal rua inglesa com os seus ónibus de cores berrantes e os seus polícias errantes, e atrás de mim ergue-se uma sombra que nada tem de comum com este século, com este meio.

No centro deste país da ciência, sou esmagado, torturado por um poder do qual a ciência nada sabe.

Nenhum magistrado consentiria em escutar-me; nenhum jornal quereria discutir o meu caso. Nenhum médico admitiria os sintomas do meu estado.

Os meus amigos mais íntimos apenas veriam nisso a prova de um desarranjo cerebral.

Perdi todo o contacto com a minha espécie.

Ah, a diabólica mulher! Que tenha cuidado. Poderia muito bem fazer-me chegar longe de mais. Quando a lei nada pode fazer por nós, podemos nós fazer uma lei.

Ela encontrou-me ontem à noite na Grande Rua e falou-me. Felizmente para ela, talvez, que este encontro não tenha ocorrido entre as sebes de uma estrada solitária do campo.

Perguntou-me com o seu sorriso glacial se estava um pouco mais calmo.

Não me dignei responder-lhe.

- Vai ser necessário dar outra volta à chave de parafusos - disse ela.

Ah, tenha cuidado, mulher, tenha cuidado!

Já a tive uma vez à minha discrição.

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Capa do livro Histórias Extraordinárias
Páginas: 136
Página atual: 77

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
MÃO ESCURA 1
O CASO DE LADY SANNOX 19
O PARASITA 31
O GATO DO BRASIL 89
O FUNIL DE CABEDAL 113
O QUARTO DO PESADELO 127