Disse-lhe tudo isto, com as mãos agitadas por tremuras, numa linguagem cujo ardor teria feito convencer o mais céptico dos homens.
- Ela detesta-me, ela detesta-o igualmente! - exclamei. - Vingou-se de nós os dois ao mesmo tempo, ontem à noite. Viu-me deixar o baile; deve tê-lo visto também. Sabia qual o tempo de que precisaria para voltar para casa. Então empregou toda a sua vontade criminosa. Ah, o seu rosto contuso é muito pouca coisa ao lado das feridas que me martirizam a alma.
Ficou impressionado com a minha narrativa. A verdade era bem evidente.
- Sim, sim - murmurou -, ela viu-me abandonar a sala. É capaz disso. Mas é possível que o haja submetido a tal ponto? E que conta fazer?
- Pôr um termo a isto! - exclamei. -Já não aguento mais. Vou adverti-la lealmente hoje e a próxima vez será a última.
- Não cometa nenhuma imprudência - disse ele.
- Nenhuma imprudência! - exclamei. - A única imprudência a cometer seria apenas retardar uma hora mais.
E dito isto, precipitei-me para fora da sala.
Agora aqui estou na véspera de um acontecimento que pode ser a grande crise da minha vida.
Vou meter mãos à obra imediatamente.
Obtive um grande resultado hoje, porque levei um homem a reconhecer pelo menos a realidade desta monstruosa aventura que é a minha.
E quando o pior chegar, este diário aqui fica para mostrar a que extremo fui levado.
À noite. Quando me dirigi a casa de Wilson, mandaram-me subir imediatamente e encontrei-o na companhia de miss Penelosa.
Durante meia hora tive de suportar uma tagarelice barulhenta acerca das suas pesquisas recentes no campo da natureza exacta das pancadas espíritas, enquanto aquela criatura e eu permanecíamos silenciosos, entreolhando-nos de soslaio.