A minha atenção foi desviada deste elogio pela aparição de um magnífico pássaro empoleirado num poste telegráfico à beira da estrada. Comecei por tomá-lo por um gaio; mas era maior e possuía mais brilho na plumagem. Pertencia, disse-me o cocheiro, ao homem que eu ia visitar. Esta aclimatação de animais exóticos parecia ser um dos caprichos de Everard King; trouxera com ele do Brasil um grande número de aves e de outros animais que procurava criar em Inglaterra.
Mal transpusemos o gradeamento do parque, pude verificar com os meus próprios olhos esta mania ou este gosto do meu primo. Alguns pequenos gamos malhados, um porco selvagem da curiosa espécie denominada pecari, um verdelhão sumptuoso, uma espécie de tatu, um animal barroco com marcha lenta, de patas viradas para dentro, e que se assemelhava a um texugo muito gordo, estavam entre aqueles que avistei enquanto subíamos a alameda sinuosa.
Mr. Everard King estava em pessoa no alpendre da sua habitação; o rodar do dog-cart havia-lhe assinalado a minha chegada. Muito cordial, muito simples de aparência, atarracado, robusto e aparentando pouco mais ou menos cinquenta e cinco anos, possuía um belo rosto redondo e jovial, tisnado pelo sol dos trópicos e todo fendido por rugas. Num fato de alpaca branca, como um plantado r, e o grande panamá descaído para a nuca, mascava um grosso charuto. Era um desses tipos cuja simples visão evoca os países quentes e o bangaló com varandim; não parecia muito no seu lugar diante daquela imensa residência inglesa, construída de pedra, com alas maciças e pilares à Palladio a dominarem a grande entrada.
- Minha querida! - gritou olhando por cima do ombro. - Minha querida! Cá temos o nosso convidado. Que seja bem-vindo a Greylands.
