Uma vez, Lorde John passou-me o jornal, onde tinha escrito a lápis, «Pobre diabo! Doido varrido.» Sem dúvida que ele era muito excêntrico, mas, no entanto, achei o seu desempenho extraordinariamente inteligente e divertido.
Enquanto isto se passava, Lorde John inclinou-se para a frente e contou-me uma história interminável sobre um búfalo e um rajá indiano, que me pareceu não ter princípio nem fim. O professor Summerlee tinha começado a chilrear como um canário, e Lorde John estava a chegar ao clímax da sua história, quando o comboio parou em Jarvis Brook, que nos tinha sido indicada como sendo a estação para Rotherfield.
E ali estava Challenger à nossa espera. A sua aparência era gloriosa. Nem todos os empertigados de criação podiam igualar a dignidade lenta e altiva com que se passeava na sua estação de comboio, e o sorriso benigno de condescendente encorajamento com que olhava toda a gente à sua volta. Se mudara em alguma coisa desde os velhos tempos, era no sentido de que as suas características se tinham acentuado. A cabeça enorme e a testa alta, com a sua madeixa calada de cabelos pretos, parecia ainda maior do que antes. A sua barba preta espetava-se para a frente numa cascata ainda mais impressionante, e os seus cristalinos olhos cinzentos, com as pálpebras insolentes e sardónicas, eram ainda mais autoritárias do que antigamente.
Brindou-me com um alegre aperto de mão e com o sorriso encorajador com que o professor recebe o seu rapazinho, e, depois de ter cumprimentado os outros e ter ajudado a recolher as malas e os cilindros de oxigénio, levou-nos então num grande automóvel que era conduzido pelo mesmo impassível Austin, o homem de poucas palavras, que eu tinha visto no papel de mordomo por ocasião da minha primeira visita, fértil em acontecimentos, ao professor. A nossa viagem levou-nos por uma colina sinuosa através de uma paisagem muito bela. Eu ia sentado à frente com o motorista, mas parecia-me que, atrás de mim, os meus companheiros iam todos a falar uns com os outros.
