Austin, o motorista, tinha recebido finalmente o último aviso, pois estava estendido ao lado do volante, com uma grande contusão na testa no lugar onde esta tinha batido no degrau ou no pára-lamas ao cair. Ainda tinha na mão a agulheta da mangueira com que estivera a lavar o seu automóvel. Dois plátanos que se erguiam no canto do pátio estavam rodeados por diversas bolinhas patéticas de penas fofas, com patas minúsculas para o ar. O braço da Morte tinha levado tudo o que era grande e pequeno no seu aperto.
Para lá do muro do pátio vimos a estrada sinuosa que se estendia até à estação. Um grupo de ceifeiros que tínhamos visto a fugir dos campos estavam estendidos atabalhoadamente, com os corpos por cima uns dos outros, ao fundo do caminho. Mais acima, a ama jazia com a cabeça e os ombros caídos sobre a encosta coberta de erva. Tinha tirado o bebé do carrinho, e este não passava de um embrulho de mantas imóvel nos seus braços. Perto dela, unia mancha minúscula na estrada mostrava o sítio onde o rapazinho estava estendido. Ainda mais perto de nós via-se o cavalo morto da carruagem de aluguer, ajoelhado entre os varais. O velho cocheiro estava pendurado no guarda-lamas como um espantalho grotesco, com os braços a baloiçar absurdamente à sua frente. Através da janela conseguíamos discernir tenuemente um jovem sentado. A porta estava aberta, e a sua mão segurava o puxador, como se tivesse tentado sair no último instante. A meia distância ficavam os campos de golfe, salpicados como de manhã com os vultos escuros dos jogadores de golfe, deitados, imóveis, na relva do campo, ou no meio da urze que o circundava. Num único green viam-se oito corpos esticados onde um grupo de quatro jogadores com os seus carregadores tinham continuado o jogo até ao último momento. Nenhum pássaro voava na abóbada azul do céu, nenhum homem ou animal se movia no vasto território que se estendia à nossa frente. O sol do fim de tarde lançava o seu esplendor pacífico sobre tudo, mas nada mais havia a não ser toda a imobilidade e o silêncio da morte universal - uma morte a que nos iríamos juntar em breve. Naquele instante, aquela moldura frágil de vidro, ao manter no interior o oxigénio extra, que neutralizava o éter envenenado, excluía-nos do destino de toda a nossa espécie. Durante algumas horas, o conhecimento e antevisão de um homem podia preservar o nosso pequeno oásis de vida naquele vasto deserto de morte, e salvar-nos da participação na catástrofe comum. Depois, o gás chegaria praticamente ao fim, e também nós sufocaríamos, estendidos naquela carpete cor de cereja do quarto privado, e o destino da raça humana e de toda a vida terrestre estaria completo. Durante muito tempo, numa disposição que era demasiado solene para conversas, contemplámos o mundo trágico.