Em todo o caso, a sua viagem terminaria provavelmente quando fossem atiradas contra a costa rochosa de Labrador. Mas que podiam elas saber de tudo isto enquanto deslizavam tão suavemente, dia após dia, no que pensavam ser um oceano sem limites e homogéneo?
»Os leitores compreenderão, possivelmente, que o Atlântico, nesta parábola, representa o oceano poderoso de éter através do qual nós nos movimentamos, e que o feixe de rolhas representa o pequeno e obscuro sistema planetário a que pertencemos. Com um sol de terceira categoria, com a sua ralé e cauda de satélites insignificantes, flutuamos diariamente sob as mesmas condições para um fim desconhecido, para uma catástrofe esquálida que nos avassalará nos confins derradeiros do espaço, onde seremos varridos sobre um Niágara etéreo, ou atirados para um impensável Labrador. Não vejo espaço aqui para o optimismo superficial e ignorante do vosso correspondente, o Sr. James Wilson MacPhail, mas muitas razões para observarmos com uma atenção muito forte e interessada todas as indicações de mudança nos ambientes cósmicos dos quais o nosso destino poderá depender»
-Céus, ele teria dado um grande ministro- disse McArdle. - Troa como um órgão. Vamos ao cerne do que está a perturbá-lo.
«A desfocagem geral e mudança das linhas do espectro de Frauenhofer aponta, na minha opinião, para uma mudança cósmica alargada de um tipo subtil e singular. A luz de um planeta é a luz do sol reflectida. A luz de uma estrela é uma luz autoproduzida. Mas os espectros, tanto de planetas como de estrelas, sofreram, neste caso, as mesmas mudanças. Trata-se, então, de uma mudança nesses planetas e estrelas? Para mim, tal ideia é inconcebível. Que mudança comum poderia acontecer simultaneamente a todos eles? Será uma mudança na nossa própria atmosfera? É possível, mas improvável no mais alto grau, uma vez que não detectamos sinais dessa mudança à nossa volta, e a análise química não conseguiu revelá-la. Qual é, então, a terceira possibilidade?
