Era esta a carta que li ao chefe de redacção do Gazette:
«Possibilidades Científicas»
«Senhor,
Li com diversão, não completamente desprovida de uma emoção menos lisonjeira, a carta complacente e totalmente imbecil de James Wilson MacPhail, que foi publicada recentemente nas vossas colunas sobre a problemática da desfocagem das linhas de Frauenhofer no espectro tanto dos planetas como das estrelas fixas. Ele rejeita o assunto como não tendo importância. Para uma inteligência mais vasta pode muito bem parecer de uma importância possivelmente muito grande - tão grande que envolve o bem-estar supremo de todos os homens, mulheres e crianças deste planeta. Dificilmente posso esperar, através do recurso à linguagem científica, transmitir algum sentido do que pretendo dizer àquelas pessoas incapazes que vão buscar as suas ideias às colunas de um jornal diário. Procurarei, portanto, condescender com essa limitação, e apresentar a situação através da utilização de uma analogia simples e que estará dentro dos limites da inteligência dos vossos leitores.»
- Céus, ele é uma maravilha... uma maravilha viva! disse McArdle, a abanar a cabeça ponderadamente. - Ele espetaria as penas a uma pomba recém-nascida e iniciaria um motim numa reunião Quaker. Não admira que tenha tomado Londres demasiado quente para ele. É uma pena, Sr. Malone, pois é um cérebro grandioso! Bom, oiçamos a analogia.
«Suponhamos [li eu] que um pequeno feixe de rolhas ligadas foi lançado numa corrente preguiçosa para uma viagem pelo Atlântico. As rolhas deslizam lentamente, dia após dia, com as mesmas condições à sua volta. Se as rolhas fossem sensíveis, poderíamos imaginar que elas considerariam que aquelas condições eram permanentes e que estavam garantidas. Mas nós, com o nosso conhecimento superior, sabemos que podem acontecer muitas coisas para surpreender as rolhas. Poderiam, possivelmente, chocar contra um navio, ou contra uma baleia adormecida, ou ficarem presas nas algas.