Malone, quer fazer o favor de verificar o que estou a dizer? As pequenas coisas em forma de fuso no centro são diatomáceas, e podem ser ignoradas uma vez que, provavelmente, são vegetais e não animais. Mas do lado direito verão uma inquestionável ameba a mover-se lentamente pela lâmina. A rosca de cima permite um melhor ajuste. Vejam com os vossos próprios olhos.
Summerlee assim fez, e aquiesceu. Eu também, e apercebi-me de uma pequena criatura que parecia ser feita de vidro moído e que se movia de uma forma peganhenta pelo círculo iluminado. Lorde John estava preparado para aceitar a palavra dele.
- Não vou dar-me ao trabalho de ver se a criatura está viva ou morta - disse ele. - Nem sequer nos conhecemos de vista, por isso por que me preocuparia? Suponho que ela não estará nada preocupada com o estado da nossa saúde.
Eu ri-me ao ouvir aquelas palavras, e Challenger olhou na minha direcção com a sua expressão mais fria e desdenhosa. Foi uma experiência extremamente petrificante.
- A superficialidade dos semi-educados é mais obstrutiva para a ciência do que a estupidez dos ignorantes - disse ele. - Se Lorde John condescendesse...
- Meu caro George, não sejas tão irascível- disse-lhe a mulher, com a mão na cabeleira preta que estava inclinada sobre o microscópio. - Que importância tem se a ameba está viva ou não?
- Tem muita importância - declarou Challenger, bruscamente.
- Bem, oiçamos porquê - disse Lorde John, com um sorriso bem humorado. - Tanto faz falar disso como de outra coisa qualquer. Se pensa que eu fui muito desligado em relação à coisa, ou magoei os seus sentimentos de alguma forma, eu pedirei desculpa.
- Quanto a mim - comentou Summerlee, na sua voz esganiçada de argumentação -, não vejo por que é que deveríamos dar tanta importância ao facto de a criatura estar viva. Está na mesma atmosfera que nós, por isso, naturalmente, o veneno não actua sobre ela. Se estivesse fora desta sala já estaria morta, como toda a vida animal.
- Os seus comentários, meu bom Summerlee - disse Challenger, com grande condescendência (oh, se eu pudesse pintar aquele rosto autoritário e arrogante no círculo claro do reflexo do espelho do microscópio!) -, os seus comentários mostram que aprecia imperfeitamente a situação. O espécime foi montado ontem e hermeticamente selado. Nenhum do nosso oxigénio pode atingi-lo. Mas o éter, é claro, penetrou nele, bem como em todos os outros pontos do universo. Portanto, sobreviveu ao veneno. Assim sendo, podemos argumentar que todas as amebas fora desta sala, ao invés de estarem mortas, como o senhor declarou erroneamente, sobreviveram à catástrofe.
