O Dia em que o Mundo Acabou - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 57 / 72

- Fala em andar. Por que deveríamos andar? - disse ele.

- Sugere que apanhemos um comboio? - perguntou Challenger, ainda furioso.

- Há algum problema com os automóveis? Por que não utilizarmos um?

- Eu não sou um especialista - disse Challenger, a puxar a barba pensativamente. - Ao mesmo tempo, tem razão ao supor que o intelecto humano nas suas manifestações mais elevadas deveria ser suficientemente flexível para se voltar para tudo. A sua ideia é excelente, Lorde John. Eu próprio vos levarei a todos para Londres.

- Eu não farei nada disso - declarou Summerlee, decidido.

- Nem pensar, George! - exclamou a mulher. - Tu só experimentaste uma vez, e não te esqueças de como chocaste contra a porta da garagem.

- Foi uma perda de concentração momentânea - disse Challenger, complacentemente. - Podem considerar o assunto decidido. Eu vou levar-vos a todos para Londres.

A situação foi salva por Lorde John.

- Qual é o automóvel? - perguntou.

- Um Humber de vinte cavalos.

- Ora, eu conduzi um desses durante anos - disse ele. - Caramba! - acrescentou. - Nunca pensei que viveria para levar toda a raça humana numa carga. Se bem me lembro existe apenas espaço para cinco pessoas. Preparem as vossas coisas e eu estarei pronto à porta às dez horas.

E na verdade, à hora marcada, o automóvel chegou a ronronar e a estalar do pátio com Lorde John ao volante. Ocupei o meu lugar ao lado dele, enquanto a senhora, um útil amortecedor, foi espremida entre os dois homens irados na retaguarda. Depois Lorde John soltou o travão, deslizou a alavanca de velocidades da primeira para a terceira, e seguimos rapidamente para a viagem mais estranha que seres humanos já fizeram desde que o homem chegou à terra.

Os leitores têm de imaginar o encanto da Natureza naquele dia de Agosto, a frescura do ar matinal, o brilho dourado do sol de Verão, o céu sem nuvens, o verde luxuriante dos bosques do Sussex, e o púrpura profundo de dunas cobertas de urze. Enquanto se olhava em volta para a beleza multicolorida da paisagem todos os pensamentos de uma grande catástrofe teriam desaparecido da mente se não tivesse sido um sinal sinistro - o silêncio solene e que abraçava tudo. Há um murmúrio suave de vida que impregna os campos, tão profundo e constante que as pessoas deixam de o ouvir da mesma forma que as pessoas que moram junto do mar perdem toda a noção do murmúrio constante das ondas. O pipilar de pássaros, o zumbido de insectos, o eco longínquo de vozes, o mugido de gado, o ladrar distante de cães, o ruído de comboios, o barulho de carroças - todas estas coisas formam uma nota baixa e ininterrupta, que soa despercebida ao ouvido.





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