O Dia em que o Mundo Acabou - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 62 / 72

Dali, podíamos ver as apinhadas ruas do centro a abrirem-se em todas as direcções, enquanto por baixo de nós a rua estava preta de um lado ao outro com os tejadilhos dos táxis parados. Todos, ou quase todos, tinham as cabeças voltadas para fora, o que revelava como os aterrorizados homens da City tinham, no último momento, tentado em vão reunir-se às suas famílias nos subúrbios ou na província. Aqui e ali, por entre os táxis mais humildes, erguia-se o grande automóvel reluzentemente cromado de algum magnata rico, entalado, impotente, no meio da maldita corrente de tráfego parado. Mesmo por baixo de nós encontrava-se um de grandes dimensões e aparência luxuosa, com o seu proprietário, um velho gordo, inclinado para fora, com metade do corpo forte fora da janela, e a mão papuda, a brilhar com diamantes, esticada enquanto ordenava ao motorista que fizesse um último esforço para abrir caminho.

Uma dúzia de autocarros motorizados erguiam-se como ilhas nesta enchente, e os passageiros que enchiam os andares superiores jaziam todos encostados e por cima dos colos uns dos outros como os brinquedos num quarto de criança. Num grande pedestal com um candeeiro, no centro da rua, um corpulento polícia-estava de pé, com as costas encostadas ao poste, numa atitude tão natural que era difícil perceber que não estava vivo, enquanto a seus pés jazia um esfarrapado entregador de jornais com o seu monte de jornais no chão a seu lado. Uma carroça de jornais tinha ficado bloqueada no meio da multidão, e podíamos ler em letras garrafais, preto sobre amarelo, «Distúrbios no Lord' s. Jogo distrital interrompido». Aquela devia ser a primeira edição, pois havia outros cartazes com a legenda, «Será o fim? Aviso de Grande Cientista». E outro, «Terá Challenger razão? Rumores ominosos».

Challenger indicou o último cartaz à mulher, como se este se erguesse como um estandarte acima da multidão. Vi-o atirar o peito para a frente e afagar a barba enquanto o contemplava. Aquela mente complexa sentia-se satisfeita e lisonjeada ao pensar que Londres morrera com o seu nome e as suas palavras ainda presentes nos pensamentos. Os seus sentimentos eram tão evidentes que suscitaram o comentário sardónico do colega.

- Na ribalta até ao fim, Challenger - comentou ele.

- Assim parece - respondeu este, com complacência. - Bem - acrescentou, enquanto baixava os olhos para a longa paisagem de ruas que se cruzavam, todas em silêncio e todas afogadas em morte -, na verdade não vejo qualquer vantagem em ficarmos mais tempo em Londres. Sugiro que regressemos imediatamente a Rotherfield, e depois reflictamos sobre a forma de empregarmos com a maior utilidade possível os anos que se estendem à nossa frente.





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