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Capítulo 5: Capítulo 5

Página 63

Apenas uma outra imagem será dada das coisas que levámos na nossa memória da Cidade morta. Foi uma visão de relance que tivemos do interior da velha igreja de Santa Maria, que se situa junto ao lugar onde o nosso carro nos esperava. Abrimos caminho por entre os corpos prostrados nos degraus, empurrámos a porta de vaivém e entrámos. Era uma visão maravilhosa. A igreja estava apinhada de cima a baixo de figuras ajoelhadas em todas as posturas de súplica e abandono. No último instante pavoroso, confrontadas inesperadamente com as realidades da vida, aquelas realidades terríveis que pairam sobre nós mesmo quando seguimos as sombras, as pessoas aterrorizadas tinham corrido para as igrejas da cidade velha que ao longo de várias gerações quase nunca tinham tido uma congregação. Ali, ajoelharam-se o mais perto possível do altar, muitos deles, agitados, ainda com o chapéu na cabeça, enquanto acima deles no púlpito um homem jovem em trajes laicos estivera, aparentemente, a dirigir-se a eles quando ele e eles tinham sido avassalados pelo mesmo destino. Ele jazia agora, como um fantoche no seu fantocheiro, com a cabeça e dois braços inertes pendentes sobre a ponta do púlpito. Era um pesadelo, a igreja cinzenta e empoeirada, as filas de pessoas agonizantes, a obscuridade e silêncio de tudo. Andámos por entre as pessoas com sussurros murmurados, a caminhar na ponta dos pés.

E depois, de repente, tive uma ideia. Num canto da igreja, perto da porta, estava a antiga pia baptismal, e por detrás dela um recesso fundo onde se encontravam as cordas dos sinos. Por que não enviarmos uma mensagem por toda a cidade de Londres que atrairia para nós quem pudesse estar vivo? Corri para lá e, puxando a corda, fiquei surpreendido ao constatar como era difícil tocar o sino. Lorde John tinha-me seguido.

- Caramba, jovem amigo! - disse ele, despindo o casaco. - Teve uma ideia fantástica. Dê-me uma ponta e depressa o faremos mexer-se.

Mas mesmo assim o sino era tão pesado que só depois de Challenger e Summerlee acrescentarem o seu peso ao nosso ouvimos o chiar e bater por cima das nossas cabeças que nos indicou que o grande sino estava a ecoar a sua música. A nossa mensagem de camaradagem e de esperança para qualquer pessoa que tivesse sobrevivido soou por toda a cidade morta de Londres. Aquele chamamento forte e metálico alegrou os nossos ouvidos, e atirámo-nos mais energicamente ao trabalho, sendo arrastados a mais de meio metro do chão de cada vez que a corda subia, mas todos juntos a fazer força na descida, Challenger, o mais baixo de todos, empregando toda a sua força na tarefa, e a subir e a descer como uma monstruosa rã-touro, a coaxar a cada esticão.

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Capa do livro O Dia em que o Mundo Acabou
Páginas: 72
Página atual: 63

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 18
Capítulo 3 31
Capítulo 4 44
Capítulo 5 53
Capítulo 6 65