- É claro como a luz do dia - respondi. - Lamento ter sido injusto consigo. Deveria confiar mais nas suas prodigiosas faculdades. Permite que lhe pergunte se tem presentemente a seu cargo alguma investigação profissional?
- Nenhuma. Daí a cocaína. Não consigo viver sem trabalho cerebral. Que outra razão há para viver? Olhe pela janela. Haverá mundo mais triste, sombrio e inútil que este? Veja como o nevoeiro rodopia pela rua abaixo e desliza sobre as casas cinzentas. Haverá alguma coisa mais desesperadamente prosaica e material? Que interessa possuir faculdades, Doutor, quando não há possibilidade de as exercer? O crime é uma banalidade, a existência é uma banalidade, e apenas as qualidades banais têm uma função nesta terra.
Abrira a boca para retorquir àquela tirada quando, com uma pancada seca na porta, a nossa senhoria entrou, trazendo um cartão sobre a bandeja.
- Uma jovem para o senhor - disse ela, dirigindo-se ao meu companheiro.
- A Menina Mary Morstan - leu ele. - Hum! Não me recordo deste nome. Peça àjovem para subir, Sr." Hudson. Não saia, Doutor. Prefiro que fique.