Viagens na minha terra - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 33 / 41

que lhe é própria e que faz parte de seu respeitável carácter nacional — faz; não se riam: o inglês não canta senão quando bebe... aliás quando está BEBIDO. Nisi potus ad arma ruisse. Inverta: Nisi potus in cantum prorumpisse... E pois, como há-de ele assim bebido erguer a voz naquele sublime e tremendo hino popular Rulle-Britania! Bebei, bebei bem zurrapa francesa, meus amigos ingleses; bebei, bebei a peso de ouro, essas limonadas dos burgraves e mar-graves de Alemanha; chamai-lhe, para vos iludir, chamai-lhe hoc, chamai-lhe hic, chamai-lhe o hic haec hoc todo inteiro, se vos dá gosto... que em poucos anos veremos o estado de acetato a que há-de ficar reduzido o vosso carácter nacional.

Oh! gente cega a quem Deus quer perder! pois não vedes que não sois nada sem nós, que sem o nosso álcool, donde vos vinha espírito, ciência, valor, ides cair infalivelmente na antiga e preguiçosa rudeza saxónia!

Dessas traidoras praias da França donde vos vai hoje o veneno corrosivo da vossa índole e da vossa força, não tardará que também vos chegue outro Guilherme bastardo que vos conquiste e vos castigue, que vos faça arrepender, mas tarde, do criminoso erro que hoje cometeis, ó insulares sem fé, em abandonar a nossa aliança. A nossa aliança sim, a nossa poderosa aliança, sem a qual não sois nada.

O que é um inglês sem Porto ou Madeira... sem Carcavelos ou Cartaxo?

Que se inspirasse Shakespeare com Laffitte, Milton com Chateaumargot — o chanceler Bacon que se diluísse no melhor Borgonha... e veríamos os acídulos versinhos, os destemperados raciocininhos que faziam.

Com todas as suas dietas, Newton nunca se lembrou de beber Johannisberg; Byron antes beberia gin, antes água do Tamisa, ou do Pamiso, do que essas escorreduras das areias de Bordéus.

Tirai-lhe o Porto aos vossos almirantes, e ninguém mais teme que torneis a ter outro Nélson. Entra nos planos do príncipe de Joinville fazer-vos beber da sua zurrapa: são tantos pontos de partido que lhe dais no seu jogo.

É M. Guizot quem perde a Inglaterra com a sua aliança; e também perde o Cartaxo. Por isso eu já não quero nada com os doutrinários. … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … …

Há doze anos tornou o Cartaxo a figurar conspicuamente na história de Portugal. Aqui, nas longas e terríveis lutas da última guerra de sucessão, esteve muito tempo o quartel-general do marquês de Saldanha.

Alguns ditirambos se fizeram; alguns ecos das antigas canções báquicas do tempo da Guerra Peninsular ainda acordaram ao som dos hinos constitucionais.

Mas o sistema liberal, tirada a época das eleições, não é grande coisa para a indústria vinhateira, dizem. Eu não o creio, porém; e tenho minhas boas razões, que ficam para outra vez.





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