Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 7: Capítulo 7

Página 32

— «Perfeitamente. Mas porque chamaram ao mestre P. o Alfageme do Cartaxo?» — «Eu lhe digo aos senhores: o homem nem era assim nem era assado. Falava bem, tinha sua lábia com o povo. Daí fez-se juiz, pôs por aí suas coisas a direito — Deus sabe as que ele entortou também!... ganhou nome no povo, e agora faz dele o que quer. Se lhe der sempre para bem, bom será. — Os senhores não tomam nada?» O bom do homem visivelmente não queria falar mais: e não devíamos importuná-lo. Fizemos o sacrifício de bom número de limões que esprememos em profundas taças — vulgo, copos de canada — e, com água e açúcar, oferecemos as devidas libações ao génio do lugar.

Infelizmente o sacrifício não foi de todo incruento. Muitas hecatombes de mirmidões caíram no holocausto, e lhe deram um cheiro e sabor que não sei se agradou à divindade, mas que enjoou terrivelmente os sacerdotes.

Saímos a visitar o nosso bom amigo, o velho D., a honra e a alegria do Ribatejo. Já ele sabia da nossa chegada, e vinha no caminho para nos abraçar.

Fomos dar, juntos, uma volta pela terra.

É das povoações mais bonitas de Portugal, o Cartaxo, asseada, alegre; parece o bairro suburbano de uma cidade.

Não há aqui monumentos, não há história antiga: a terra é nova, e a sua prosperidade e crescimento datam de trinta ou quarenta anos, desde que o seu vinho começou a ter fama. Já descaída do que foi, pela estagnação daquele comércio, ainda é, contudo, a melhor coisa da Borda-d’Água.

Não tem história antiga, disse; mas tem-na moderna e importantíssima.

Que memórias aqui não ficaram da Guerra Peninsular! Que espantosas borracheiras aqui não tomaram os mais famosos generais, os mais distintos militares da nossa antiga e fiel aliada, que ainda então, ao menos, nos bebia o vinho!

Hoje nem isso!... hoje bebe a jacobina zurrapa de Bordéus, e as acerbas limonadas de Borgonha. Quem tal diria da conservativa Albion! Como pode uma leal goela britânica, rascada pelos ácidos anárquicos daquelas vinagretas francesas, entoar devidamente o God-save-the-King em um toast nacional! Como, sem Porto ou Madeira, sem Lisboa, sem Cartaxo, ousa um súbdito britânico erguer a voz, naquela harmoniosa desafinação insular

<< Página Anterior

pág. 32 (Capítulo 7)

Página Seguinte >>

Capa do livro Viagens na minha terra
Páginas: 41
Página atual: 32

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 7
Capítulo 3 11
Capítulo 4 15
Capítulo 5 19
Capítulo 6 23
Capítulo 7 29
Capítulo 8 34
Capítulo 9 37