- Divino! - exclamou. Tornou a encher o copo; achava aquilo uma pândega.
- Mas que tens tu?
Luísa com efeito parecia preocupada. Tinha suspirado baixo. Duas vezes, endireitando-se na cadeira, dissera a Juliana, inquieta:
- Parece que tocaram a campainha, vá ver.
Não era ninguém.
- Quem havia de ser? Não esperas teu marido, decerto.
- Ah! não!
E então Leopoldina, com os olhos no prato, partindo devagar, muito atenta, lascazinhas de bacalhau:
- E teu primo veio ver-te?
Luísa fez-se vermelha.
- Sim, tem vindo. Tem vindo várias vezes.
- Ah!
E depois de um silêncio:
- Ainda está bonito?
- Não está feio...
- Ah!
Luísa apressou-se a perguntar se tinha encomendado o vestido de xadrezinho? Não. E começaram a falar de toaletes, fazendas, lojas e preços... Depois, de conhecidas, de outras senhoras, de boatos - perdendo-se numa conversa de mulheres sós, miudinha e divagada, semelhante ao ramalhar de folhagens.
Viera o assado. Leopoldina já ia tendo uma cor quente nas faces. Pediu a Juliana que lhe fosse buscar o leque; - e recostada, abanando-se, declarou que se sentia como um príncipe. E ia bebericando golinhos de vinho. Que boa idéia, jantarem juntas!...
Apenas Juliana dispôs os pratos de fruta, Luísa disse-lhe logo que chamaria para o café, que podia ir. Foi ela mesmo fechar a porta da sala, correr o reposteiro de cretone:
- Estamos à vontade, agora! Faço-me velha só de olhar para esta criatura! Estou morta por a ver pelas costas!
- Mas por que a não pões na rua?
Jorge que não queria, senão...
Leopoldina protestou. Boa! Os maridos não deviam ter vontade!... Era o que faltava!...
- E o teu, então? - disse Luísa, rindo.
- Obrigada! - exclamou Leopoldina. - Um homem que faz quarto à parte!.