O Primo Basílio - Cap. 5: CAPÍTULO V Pág. 145 / 414

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De resto detestava os homens que se ocupam de criadas, de róis, de azeites e vinagres...

- Que lá o meu cavalheiro até pesa a carne! - Sorriu, com ódio. - Também é o que vale, senão!... Eu só de ir à cozinha me dão enjôos...

Quis deitar vinho, mas a garrafa estava vazia.

Luísa acudiu:

- Queres, tu champanhe? - Tinha-o muito bom, que o mandava a Jorge um proprietário de minas.

Foi ela mesmo buscar a garrafa, desembrulhou-a do seu papel azul; - e com risinhos, sustos, fizeram estalar a rolha. A espuma encantou-as; olhavam os copos, caladas, com um bem-estar feliz. Leopoldina gabou-se de saber abrir muito bem o champanhe; falava vagamente de ceias passadas...

- Em terça-feira gorda, há dois anos!...

E toda recostada na cadeira, com um sorriso cálido, as asas do nariz dilatadas, a pupila úmida, olhava com sensualidade os globulozinhos vivos que subiam, sem cessar, no copo esguio.

- Se fosse rica, bebia sempre champanhe - disse.

Luísa não, ambicionava um cupê; e queria viajar, ir a Paris, a Sevilha, a Roma... Mas os desejos de Leopoldina eram mais vastos: invejava uma larga vida, com carruagens, camarotes de assinatura, uma casa em Sintra, ceias, bailes, toaletes, jogo... Porque gostava do monte. - dizia - fazia-lhe bater o coração.

E estava convencida que havia de adorar a roleta.

- Ah! - exclamou. - Os homens são bem mais felizes que nós! Eu nasci para homem! O que eu faria!

Levantou-se, foi-se deixar cair muito languidamente na voltaire, ao pé da janela. A tarde descia serenamente; por trás das casas, para lá dos terrenos vagos, nuvens arredondavam-se, amareladas, orladas de cores sanguíneas ou de tons alaranjados.

E voltando-lhe a mesma idéia de ação, de independência:

- Um homem pode fazer tudo! Nada lhe fica mal! Pode viajar, correr aventuras.





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