Puseram-se a falar dos sentimentos. Leopoldina tivera quatro; a mais bonita era a Joaninha , a Freitas. Que olhos! E que bem feita! Tinha-lhe feito a corte um mês.
- Tolices! - disse Luísa corando um pouco.
- Tolices! Por quê?
Ai! Era sempre com saudades que falava dos sentimentos. Tinham sido as primeiras sensações, as mais intensas. Que agonia de ciúmes! Que delírio de reconciliações! E os beijos furtados! E os olhares! E os bilhetinhos, e todas as palpitações do coração, as primeiras da vida!
- Nunca - exclamou -, nunca, depois de mulher, senti por um homem o que senti pela Joaninha!... Pois podes crer...
Um olhar de Luísa deteve-a. - A Juliana! Diabo! Tinha-se esquecido! Constrangia-se muito, com o seu sorrisinho torcido, a figura de peito chato, o tique-taque dos metálico dos tacões.
- E que foi feito da Joaninha? - perguntou Luísa.
- Morrera tísica - e a voz de Leopoldina fez-se saudosa. Uma doença bem triste, não era? Mas não lhe tinha medo, ela! Batia no seio, bem formado:
- Isto é rijo, isto é são!
Juliana saiu, e Luísa observou logo:
- Vê no que falas, filha! Tem cuidado!
Leopoldina curvou-se:
- Ah! A respeitabilidade da casa! Tens razão! - murmurou.
E como Juliana entrava com o bacalhau assado, fez-lhe uma ovação!
- Bravo! Está soberbo!
Tocou-lhe com a ponta do dedo, gulosa; vinha louro, um pouco toscado, abrindo em lascas.
- Tu verás - dizia ela. - Não te tentas? Fazes mal!
Teve então um movimento decidido de bravura, disse:
- Traga-me um alho, Sra. Juliana! Traga-me um bom alho!
E apenas ela saiu:
- Eu vou ter logo com o Fernando, mas não me importa!... Ah! Obrigada, Sra. Juliana! Não há nada como o alho!...
Esborrachou-o em roda do prato, regou as lascas do bacalhau de um fio mole de azeite, com gravidade.