O Primo Basílio - Cap. 5: CAPÍTULO V Pág. 143 / 414

Puseram-se a falar dos sentimentos. Leopoldina tivera quatro; a mais bonita era a Joaninha , a Freitas. Que olhos! E que bem feita! Tinha-lhe feito a corte um mês.

- Tolices! - disse Luísa corando um pouco.

- Tolices! Por quê?

Ai! Era sempre com saudades que falava dos sentimentos. Tinham sido as primeiras sensações, as mais intensas. Que agonia de ciúmes! Que delírio de reconciliações! E os beijos furtados! E os olhares! E os bilhetinhos, e todas as palpitações do coração, as primeiras da vida!

- Nunca - exclamou -, nunca, depois de mulher, senti por um homem o que senti pela Joaninha!... Pois podes crer...

Um olhar de Luísa deteve-a. - A Juliana! Diabo! Tinha-se esquecido! Constrangia-se muito, com o seu sorrisinho torcido, a figura de peito chato, o tique-taque dos metálico dos tacões.

- E que foi feito da Joaninha? - perguntou Luísa.

- Morrera tísica - e a voz de Leopoldina fez-se saudosa. Uma doença bem triste, não era? Mas não lhe tinha medo, ela! Batia no seio, bem formado:

- Isto é rijo, isto é são!

Juliana saiu, e Luísa observou logo:

- Vê no que falas, filha! Tem cuidado!

Leopoldina curvou-se:

- Ah! A respeitabilidade da casa! Tens razão! - murmurou.

E como Juliana entrava com o bacalhau assado, fez-lhe uma ovação!

- Bravo! Está soberbo!

Tocou-lhe com a ponta do dedo, gulosa; vinha louro, um pouco toscado, abrindo em lascas.

- Tu verás - dizia ela. - Não te tentas? Fazes mal!

Teve então um movimento decidido de bravura, disse:

- Traga-me um alho, Sra. Juliana! Traga-me um bom alho!

E apenas ela saiu:

- Eu vou ter logo com o Fernando, mas não me importa!... Ah! Obrigada, Sra. Juliana! Não há nada como o alho!...

Esborrachou-o em roda do prato, regou as lascas do bacalhau de um fio mole de azeite, com gravidade.





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