O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 160 / 414

E continuou:

... Que tristeza que fosse a carta e que não fosses tu que ali estivesses! Estou pasmada de mim mesma, como em tão pouco tempo te apossaste do meu coração, mas a verdade é que nunca deixei de te amar. Não me julgues por isto leviana, nem penses mal de mim, porque eu desejo a tua estima, mas é que nunca deixei de te amar e ao tornar a ver-te, depois daquela estúpida viagem para tão longe, não tu superior ao sentimento que me impelia para ti, meu adorado Basílio. Era mais forte que eu, meu Basílio. Ontem, quando aquela maldita criada me veio dizer que tu te vinhas despedir, Basílio, fiquei como morta; mas quando vi que não, nem eu sei, adorei-te! E se tu me tivesses pedido a vida dava-ta, porque te amo, que eu mesma, me estranho... Mas para que foi aquela mentira, e para que vieste tu? Mau! Tinha vontade de te dizer adeus para sempre, mas não posso, meu adorado Basílio! É superior a mim. Sempre te amei, e agora que sou tua, que te pertenço corpo e alma, pareço-me que te amo mais, se é possível...

- Onde está ela? Onde está ela? - disse uma voz na sala.

Luísa ergueu-se, com um salto, lívida. Era Jorge! Amarrotou convulsivamente a carta, quis escondê-la no bolso, - o roupão não tinha bolso! E desvairada, sem reflexão, arremessou-a para o sarcófago. Ficou de pé, esperando, as duas mãos apoiadas à mesa, a vida suspensa.

O reposteiro ergueu-se - e reconheceu logo o chapéu de veludo azul de D. Felicidade.

- Aqui metida, sua brejeira! Que estavas tu aqui a fazer? Que tens tu, filha, estás como a cal...

Luísa deixou-se cair no fauteuil1, branca e fria; disse com um sorriso cansado:

-`Estava a escrever, deu-me uma tontura...

- Ai! Tonturas, eu! - acudiu logo D. Felicidade. - É uma desgraça, a cada momento a agarrar-me aos móveis; até tenho medo de andar só.





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