Sentou-se, escolheu uma folha de papel, começou a escrever na sua letra um pouco gorda:
Meu adorado Basílio.
Mas um terror importuno tolhia-a; sentia como um palpite de que ele vinha, Era melhor não se pôr a escrever, talvez!... Ergueu-se, foi à sala devagar, sentou-se no divã; e, como se o contato daquele largo sofá e o ardor das recordações que ele lhe trazia da véspera lhe tivesse dado a coragem das ações amorosas e culpadas, voltou muito decidida ao escritório, escreveu rapidamente:
Não imaginas com que alegria recebi esta manhã a tua carta...
A pena velha escrevia mal; molhou-a mais, e ao sacudi-la, como lhe tremia um pouco a mão, um borrão negro caiu no papel. Ficou toda contrariada; pareceu-lhe aquilo um mau agouro. Hesitou um momento - e coçando a cabeça, os cotovelos sobre a mesa, sentia Juliana varrer fora o patamar, cantarolando a Carta Adorada. Enfim, impaciente, rasgou a folha muitas vezes em pedacinhos miúdos - e atirou-os para um caixão de pau envernizado com duas argolas de metal, que estava ao canto junto à mesa, onde Jorge deitava os rascunhos velhos e os papéis inúteis; chamavam-lhe "o sarcófago"; Juliana decerto, descuidara-se de o esvaziar no lixo, porque transbordava de papelada:
Escolheu outra folha, recomeçou:
Meu adorado Basílio.
Não imaginas como fiquei quando recebi tua carta, esta manhã, ao acordar. Cobri-a de beijos...
Mas o reposteiro franziu-se numa prega mole, a voz de Juliana disse discretamente:
- Está ali a costureira, minha senhora.
Luísa, sobressaltada, tinha tapado a folha de papel com a mão.
- Que espere.