- É uma voz de barítono, digna de São Carlos.
- E muito elegante! - disse D. Felicidade.
- Um gentleman! - resumiu o Conselheiro.
Julião, calado, bamboleava a perna. Agora, àqueles elogios, o seu despeito renascia; lembrava a secura cortante de Luísa, naquela manhã, as poses do outro. Não resistiu a dizer:
- Um pouco sobrecarregado nas jóias e nos bordados das meias. De resto é moda no Brasil, creio...
Luísa corou; teve-lhe ódio. E, vagamente, veio-lhe uma saudade de Basílio.
D. Felicidade então, perguntou por Sebastião: não o via havia um século; e lamentava, porque era uma pessoa que lhe dava saúde, só vê-la.
- É uma grande alma - disse com ênfase o Conselheiro. - Todavia censurava-o um pouco por não se ocupar, não se tornar útil ao seu país. - Porque enfim - declarou - o piano é uma bonita habilidade, mas não dá uma posição na sociedade. - Citou então Ernestinho, que, posto que dando-se à arte dramática, era todavia (e a sua voz tornou-se grave), segundo todas as informações, um excelente empregado aduaneiro...
Que fazia ele, Ernestinho? - perguntaram.
Julião tinha-o encontrado. Dissera-lhe que a Honra e paixão ia daí a duas semanas; já se estavam a imprimir os cartazes, e na Rua dos Condes já lhe não chamavam senão o Dumas filho português! E o pobre rapaz crê-se realmente um Dumas filho!
- Não conheço esse autor - disse com gravidade o Conselheiro - posto que me pareça, pelo nome, ser filho do escritor que se tornou famoso pelos Três mosqueteiros e outras obras de imaginação!... Mas, de resto, o nosso Ledesma é um esmerado cultor da arte dos Corneilles! Não lhe parece, D.