.. Obrigado, Conselheiro - e recebeu o seu prato de vitela - ... é-me inteiramente indiferente. É tudo a mesma podridão! - O país inspirava-lhe nojo; de cima a baixo era uma choldra; e esperava breve que, pela lógica das coisas, uma revolução varresse a porcaria...
- Uma revolução! - fez o Alves Coutinho assustado, com olhares inquietos para os lados, coçando nervosamente o queixo.
O Conselheiro sentara-se e disse, então:
- Eu não quero entrar em discussões políticas, só servem para dividir as famílias mais unidas, mas só lhe lembrarei, Sr. Zuzarte, uma coisa, os excessos da Comuna...
Julião recostou-se, e com uma voz muito tranquila:
- Mas onde está o mal, Sr. Conselheiro, se fuzilarmos alguns banqueiros, alguns padres, alguns proprietários obesos e alguns marqueses caquéticos! Era uma limpezazinha!... - E fazia o gesto de afiar a faca.
O Conselheiro sorriu, cortesmente; tomava como um gracejo aquela saída sanguinária.
O Saavedra, porém, interpôs-se, com autoridade:
- Eu no fundo sou republicano...
- E eu - disse Jorge.
- E eu - fez o Alves Coutinho, já inquieto. - Contem-me a mim também!
- Mas - continuou o Saavedra - sou-o em princípio. Porque o princípio é belo, o princípio é ideal! Mas a prática? Sim, a prática? - E voltava para todos os lados a sua face balofa.
- Sim, na prática! - exclamava o Alves Coutinho, em eco admirativo.
- A prática é impossível! - declarou o Saavedra. E encheu a boca de vitela.
O Conselheiro então resumiu:
- A verdade é esta: o pais está sinceramente abraçado à família real... Não acha, meu bom Sebastião? - Dirigia-se a ele como proprietário e possuidor de inscrições.
Sebastião, interpelado, corou, declarou que não entendia nada de política; havia todavia fatos que o afligiam; parecia-lhe que os operários eram malpagos; a miséria crescia; os cigarreiros, por exemplo, tinham apenas de nove a onze vinténs por dia, e, com família, era triste.