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- É uma infâmia! - disse Julião encolhendo os ombros. 
- E há poucas escolas... - observou timidamente Sebastião. 
- É uma torpeza! - insistiu Julião. 
O Saavedra calava-se, ocupado com o alimento; tinha desabotoado a fivela do colete; espalhava-se-lhe no rosto gordo uma cor de enfartação, e sorria vagamente, inchado. 
- E os idiotas de São Bento?... - exclamou Julião. 
Mas o Conselheiro interrompeu-o: 
- Meus bons amigos, falemos de outra coisa. É mais digno de portugueses e de súditos fiéis. 
E voltando-se logo para Jorge, quis saber como ficara a interessante D. Luísa. 
Estava um pouco adoentada havia dias - disse Jorge. - Mas não era nada, mudança de estação, um bocadito de anemia... 
O Saavedra, pousando o copo, e cumprimentando: 
- Tive o prazer de a ver passar este verão quase todas as manhãs por minha casa - disse. - Ia para os lados de Arroios. Às vezes de trem, às vezes a pé... 
Jorge pareceu um pouco surpreendido; mas o Conselheiro ia dizendo quanto lhe pesava não ter o prazer de a ver partilhar daquele modesto repasto; como celibatário porém... não tendo uma esposa para fazer as honras... 
- E é o que eu admiro, Conselheiro - observou Julião -, é que tendo uma casa tão confortável, não se tenha casado, não se tenha dado o conchego de uma senhora... 
Todos apoiaram. Era verdade! O Conselheiro devia-se ter casado. 
- São graves, perante Deus e perante a sociedade, as responsabilidades de um chefe de família - considerou ele. 
Mas enfim - disseram, é o estado mais natural. E depois, que diabo, às vezes havia de se sentir só! E numa doença! Sem contar a alegria que dão os filhos!... 
O Conselheiro objetou: "os anos, as neves da fronte..." 
Também ninguém lhe dizia que fosse casar com uma rapariga de quinze anos! Não, era arriscado.