Alice no País das Maravilhas - Cap. 5: 5 - Conselhos de uma Lagarta Pág. 36 / 91

“Serpente, repito!” insistiu a Pomba, porém num tom menos enfático. E acrescentou, com uma espécie de suspiro: “Eu tentei de tudo, mas nada parece adiantar com elas!”

“Não faço a mínima ideia do que você está falando!” disse Alice. “Eu tentei as raízes das árvores, tentei as ribanceiras, tentei as cercas...” continuou a Pomba, sem dar atenção a ela, “mas estas serpentes... não dão sossego!”

Alice estava cada vez mais embaraçada, todavia achou que não adiantaria dizer coisa alguma enquanto a Pomba não parasse de falar.

“Como se não bastasse ter de chocar os ovos”, disse a Pomba, “eu sou obrigada a vigiar serpentes noite e dia! Ora, faz três semanas que eu não consigo pregar o olho!”

“Eu sinto muito por esses aborrecimentos todos”, disse Alice, começando a entender a situação.

“E justo quando arranjei a árvore mais alta do bosque”, continuou a Pomba, erguendo a voz até gritar, “e justo quando pensei que estava livre delas de uma vez por todas, elas vêm se enrolando lá do céu! Ugh, Serpente!”

“Mas eu não sou uma serpente, já disse!” falou Alice. “Eu sou... eu sou...”

“Bem! O que você é?” disse a Pomba. “Percebo que você está tentando inventar alguma coisa!”

“Eu... eu sou uma menina”, disse Alice, muito encabulada, relembrando todas as mudanças que tinha sofrido aquele dia.

“Uma bela história, de fato!” disse a Pomba com o mais profundo desprezo. “Eu já vi muitas garotinhas na minha vida, mas nunca vi alguma com um pescoço assim! Não, essa não! Você é uma serpente, não adianta negar. Só falta você me dizer que jamais provou um ovo!”

“Eu já provei ovos, sim”, falou Alice, que sempre dizia a verdade, “mas as meninas comem ovos tanto quanto as serpentes, saiba disso.”

“Eu não acredito”, disse a Pomba; “mas, se for verdade, então elas são uma espécie de serpente: é tudo o que posso dizer.”





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