O Retrato de Dorian Gray - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 166 / 335

É absolutamente encantadora; e a Patti cantou divinamente. Não me fale de coisas horripilantes. Aquilo de que se não fala nunca aconteceu. É apenas a expressão, como diz o Henry, que dá realidade às coisas. Posso informá-lo de que a mulher tem outro filho. Creio que um belo moço. Mas não trabalha no teatro. É marinheiro ou coisa que o valha. E agora fale-me de si, diga-me o que está pintando.

- Foi à Ópera? - perguntou Hallward, falando muito lentamente, com uma vibração de mágoa na voz. - Foi à Ópera, enquanto Sibyl Vane jazia morta em algum sórdido casebre? Pode falar de outras mulheres, dizer-me que elas são encantadoras, que a Patti canta divinamente, e ainda a rapariga que você amava nem sequer repousa na paz da sepultura! Lembre-se, homem, dos horrores que estão reservados para aquele alvo corpo!

- Cale-se, Basil! Não quero ouvir isso! - bradou Dorian, pondo-se bruscamente de pé. - Não me deve falar dessas coisas. O que está feito está feito. O passado é passado.

- Chama a ontem o passado?

- Que importa o lapso de tempo na realidade decorrido? Só as pessoas banais é que necessitam de anos para se libertarem duma emoção. Um homem que é senhor de si pode pôr termo a unia mágoa com a mesma facilidade com que inventa um prazer. Eu não quero estar à mercê das minhas emoções. Quero utilizá-las para as gozar, para as dominar.





Os capítulos deste livro