- Dorian, isso é horrível! Há o que quer que seja que o transformou completamente. Você tem exactamente a mesma admirável aparência do rapaz que, dia após dia, vinha ao meu atelier para eu lhe pintar o retrato. Mas então era simples, natural e afectivo. Era a criatura mais inocente e pura de todo o mundo. Agora, não sei que transformação sofreu. Fala como se não tivesse coração, como se não tivesse sentimentos. Tudo isso é influência do Henry. Vejo-o.
O jovem ruborizou-se e, indo para a janela, pôs-se a olhar para o jardim, inundado de sol.
- Devo muito ao Henry, Basil - disse, passados uns momentos -, mais do que a si. Você só me ensinou a ser vaidoso.
- Muito bem, sou por isso castigado, Dorian, ou sê-lo-ei algum dia.
- Não sei o que significam as suas palavras, Basil - exclamou, voltando-se. - Não sei o que você quer. Que quer?
- Quero o Dorian Gray que eu pintava - respondeu com tristeza o artista.
- Basil - tornou o jovem, aproximando-se dele e pousando-lhe a mão no ombro -, veio tarde demais. Ontem, quando soube que a Sibyl Vane se matara...
- Se matara! Deus do céu! É certo? - exclamou Hallward, fitando-o com uma expressão de horror.
- Meu caro Basil! com certeza não pensa que tenha sido um acidente vulgar. É claro que se matou...