- Quando? - inquiriu.
- Quando, sentados em filas apertadas nas assembleias, nos tribunais, nos teatros, nos acampamentos e em toda a parte onde há gente, criticam determinadas acções ou palavras e aprovam outras, em ambos os casos com grande tumulto e de forma exagerada, gritando e aplaudindo ao mesmo tempo que os rochedos" e os sítios em volta fazem eco e redobram fragor da crítica e do elogio. No meio de semelhantes cenas, não sentirá o mancebo, como sói dizer-se, faltar-lhe o ânimo? Que educação particular poderá resistir? Não será submergida por tantas críticas e elogios e arrastada ao sabor da corrente? Não se pronunciará o mancebo como a multidão acerca do belo e do feio? Não se associará às mesmas coisas que ela? Não se tornará semelhante a ela?
- Forçosamente, Sócrates.
- E, no entanto, ainda não falámos da maior prova por que terá de passar.
- Qual?
- A que esses educadores e sofistas infligem, de facto, quando não podem persuadir pelo discurso. Não sabes que castigam aquele que não se deixa convencer cobrindo-o de vergonha, condenando-o a uma multa ou à pena de morte?
- Sei-o muito bem.
- Ora, que outro sofista, que ensino particular oposto a esse poderiam prevalecer?
- Creio que nenhum.
- Não, sem dúvida - concordei. - E tentar semelhante coisa seria até uma grande loucura. Não há, nunca houve, não haverá nunca, carácter formado na virtude contra as lições que dá a multidão: falo de carácter humano, meu caro camarada, dado que, como diz o provérbio, o divino é uma excepção. Com efeito, fica sabendo que, se, em semelhantes governos, há um que seja salvo e se torne o que deve ser, podes dizer sem receio de errar que é a uma protecção divina que o deve.
- Também a minha opinião não é diferente.
- Então também podes estar de acordo comigo nisto.
-Em quê?
- Todos esses mercenários particulares, a que o povo chama sofistas e considera seus rivais, não ensinam máximas diferentes daquelas que o próprio povo professa nas suas assembleias, e é a isso que chamam sabedoria.