O Sinal dos Quatro - Cap. 4: 4 - A História do Homem Calvo Pág. 23 / 133

Capítulo IV - A História do Homem Calvo

Seguimos o indiano por um corredor sórdido, mal iluminado e pior mobilado, até que atingimos, do lado direito, uma porta que ele abriu. Um clarão de luz amarela envolveu-nos, no centro do qual estava um homem de cabeça pontiaguda, circundada por um tufo de cabelo ruivo a marginar o crânio calvo e brilhante que sobressaía como o cume de uma montanha entre abetos. Ao levantar-se, começou a enrolar as mãos uma na outra, ao mesmo tempo que o rosto se contraía incessantemente - ora sorrindo, ora franzindo as sobrancelhas, mas nunca, sequer por um instante, ficando sereno. A natureza dotara-o de um lábio pendente e uma fileira muito visível de dentes amarelos e irregulares, que ele tentava em vão esconder, passando constantemente a mão sobre a parte inferior do rosto. Apesar da calvice evidente, dava a impressão de ser jovem. De facto, tinha apenas trinta anos.

- Um seu servo, Menina Morstan - não parava de repetir com voz fina, aguda. - Um vosso servo, cavalheiros.

Façam o favor de entrar no meu pequeno aposento privado. Uma sala acanhada, mas mobilada a meu gosto. Um oásis artístico no gritante deserto do sul de Londres.

Todos ficámos espantados com o aspecto da sala para a qual nos convidara a entrar. Naquela triste casa, parecia tão deslocada como um diamante de primeira água num suporte de lata. Ricas e vistosas cortinas e tapeçarias cobriam as paredes, vendo-se aqui e ali uma pintura ricamente emoldurada ou um jarrão oriental. A carpeta era cor de âmbar e preta, tão macia e espessa que os pés se afundavam agradavelmente como se estivessem em cima de uma cama de musgo. Duas grandes peles de tigre sobre a carpeta e um enorme narguilé, que estava sobre uma esteira a um canto, aumentavam a sugestão de luxo oriental.





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